A conversa, moderada por Manuel Alberto Valente, juntou, esta quinta-feira, no Cine-Teatro Garrett, os autores Ivo Machado, João Luís Barreto Guimarães, Margarida Ferra, Patrícia Portela e Ariana Harwickz.

Apesar de confessar não ser um amante da pintura de Pieter Brueghel, Ivo Machado sublinhou a atualidade da obra que deu nome à mesa de debate, pois “continuamos todos vivendo em torres, e tantas vezes construídas por nós próprios”. Para o autor, a Humanidade continua, a cada dia, a almejar uma Babel, como forma de “ultrapassar o desconhecido” e na esperança que o presente alcance “uma outra Babel, quem sabe mais desafiadora, sólida e bem conseguida”.

“Uma das vozes mais relevantes da poesia portuguesa”, nas palavras de Manuel Alberto Valente, João Luís Barreto Guimarães abordou a “utopia da comunicação”. O que pode a poesia contra a guerra? Através da narrativa da Torre de Babel, castigada pela “ousadia e tentativa de ousar o divino”, a pergunta reconhece que se deve partir do princípio que “a comunicabilidade nem sempre está assegurada”. Para o escritor, “os tiranos não costumam ter afeição à poesia” e temem a razão e a emoção do verso e da palavra, à qual ninguém pode roubar “o mérito de ser um começo”.

Margarida Ferra refletiu sobre uma Torre de Babel “sem a legenda bíblica” e sem um progresso punido “como um castigo” ou “parte de um projeto maléfico”. Na sua intervenção, a escritora celebrou a “diversidade” e a “condenação a viajar entre diferentes línguas”, que permite uma “infinidade de possibilidades” a uma Torre de Babel que pode ser vista como o fim, mas também “como o princípio”.

Em concordância com Margarida Ferra, Patrícia Portela olha para o quadro de Pieter Brueghel como uma “história bíblica de surpreendente unanimidade para os perigos da ambição e ganância do ser humano”. Trata-se, segundo a autora lisboeta, de “uma leitura bizarra para a origem e manutenção de uma multiplicidade de línguas”, sugerindo, em alternativa, que nos “debrucemos com carinho” para esta complexidade cultural e “pluralidade linguística”, questionando “o que nós somos sem os outros” e o porquê da obsessão em “dizermos tudo da mesma maneira”.

De Portugal à Argentina, Ariana Harwickz encerrou a Mesa 4 elogiando “uma obra de arte que atravessou os séculos”, pintada por “um artista, que, embora já morto, está vivo, enquanto artistas tão vivos estão mortos”. Tal deve-se, segundo a escritora, ao “coração da sua modernidade, por pensar como um escritor e não só como o pintor que ousou pintar o impossível”. 

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