Nascido, a 16 de Janeiro de 1882, e falecido, a 7 de Setembro de 1956, na Póvoa de Varzim, cujos valores a acautelar punha acima de interesses pessoais e partidários, sempre que o proveito comunitário falava mais alto, Santos Graça deixou de permeio uma existência de exemplar dedicação à causa pública e à terra que estremecia. Na altura em que nasceu, na casa da família, número 91 da rua do Carvalhido, actual Elias Garcia, de esquina para a António Graça, conhecida pela rua do Norte, a Póvoa era um burgo marítimo ainda marcadamente piscatório, mas já com a praia de banhos mais frequentada de Entre Douro e Minho, como hoje acontece. A população do centro urbano computava-se em 11.159 habitantes, entregando-se a maioria dos homens válidos às fainas da pesca, para o que dispunha de assaz provido número de barcos, talvez centenas, entre lanchas do alto, batéis e catraias, que sulcavam os mares litorais da Galiza à Figueira, gente bem conhecida nos portos desta faixa costeira, onde por vezes se acolhiam para abrigo e venda de peixe. O pai, João dos Santos Constantino (1851-1906), pescador do bairro do Ramalhão e banheiro, que dos seus progenitores herdara o nome de Constantino e, por alcunha, 0 «Amarelo», apelido que o bisavô usava. A mãe, Maria Francisca (1854-1935), a «Tia Marucas», epíteto por que era conhecida, proveniente talvez do piropo de algum galanteador, estranho à classe, que assim se lembrara de crismar uma bonita pescadeira. O baptismo recebeu-o, três dias depois do nascimento, na Igreja Matriz da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no momento, a única da vila. Para padrinho escolheram-lhe o Dr. António Duarte Baptista Graça (1851-1902), a que chamavam «o doutor Santana», médico-cirurgião vilacondense, com consultório na rua de S. Bento e assistência não muito regular no Hospital da Misericórdia da localidade. Quaisquer que fossem as relações pessoais da família para esta escolha e a da madrinha, Rita Moreira de Castro, rica proprietária de uma freguesia do concelho de Vila do Conde, o certo é ter Santos Graça recebido do padrinho o apelido «Graça», que passou a integrar o seu nome completo.

O actuante dinamismo, a inteligência prática, a férrea vontade, o humanismo solidário deste autodidacta vindo do nada, que terá sido a personalidade poveira mais marcante da primeira metade do século XX, acompanharam-no com uma intensidade surpreendente ao longo de uma vida, a que a morte pôs, aos setenta e quatro anos, repentinamente termo.