“João Pena” é o nome suposto, o “nom de plume” enfim, usado não para ocultar uma identidade mas para separar o “eu lírico” ou “eu poético” do autor, Henrique Cascão (seu nome de batismo), do resto da sua atividade jurídica nas funções públicas, exercidas há já mais de trinta anos, como magistrado do ministério público, nascido que foi a 23 de Outubro de 1960, na cidade da Beira, em Moçambique, e que desde que cursou Direito e se licenciou nos anos oitenta, em Coimbra, sempre poetou, mas não muito… nunca tendo publicado.

Desde a sua adolescência radicado em Braga, na maturidade da vida suscitou-se-lhe o propósito de passar a traduzir em verso, com maior constância, pensamentos e sentimentos em si e nos outros também antevistos, naquele sincero fingimento que Pessoa definiu e que no Autor é assumido ora como “fingir amar a beijada dor que já não sente” ora como “sofrimento que se finge postiço”, podendo dizer-se que também foi a pandemia de 2020 que serviu de pretexto para o início da composição dos setenta e seis poemas do seu primeiro livro, O Tabagista Só , onde irrompe quer o sanitário “insano ser solidário que é estar só” quer o desejo coletivo do convívio com a multidão regressada e “vacinada de toda a solidão”…

Em três pretos pontos é o segundo livro do autor, também editado pela Blue Book.

A Blue Book volta a publicar “João Pena”, nome suposto do autor, Henrique Cascão, e pseudónimo assumido apenas como “divisor de águas” entre a atividade poética do restante da sua atividade jurídica, nas funções de magistrado do ministério público.

Depois de no outono de 2021 ter vindo a lume, também pela mão da “BlueBook” e hoje já em 2ª edição,  a sua primeira obra poética (“O Tabagista Só”) que se subtitula, em jeito de rótulo identitário, como “lírica inconjugada”, João Pena de novo reincide sob o mesmo rótulo e agora com o principal título talvez enigmático dos “três pretos pontos”: mas deixa-se ao próprio autor o ensejo de, no prólogo, esclarecer e apresentar o título e a estrutura e conteúdo deste livro.

Nem de longe compete ao editor substituir-se à crítica mas, sem embargo e sem o fazer, cabe-lhe também apreciar o que vai publicar e saber no que aposta, e só por isso dizer que neste seu segundo livro João Pena, para além da feição mais lírica com que se revelou na sua obra de estreia, consegue aqui deixar-nos outra faceta: pontos de reflexão concisa numa época de tanto relativismo e liquefeitas incertezas: tudo num estilo formal que vai lembrando, em fusão mais pessoal, as velhas cantigas d’amigo, os simbolistas e algo do modernismo de novecentos, mas sobretudo fazendo uma nada esperada incursão à antiguidade latina, trazendo à memória o seu modo sincopado e despido de versificar: outros dirão diversa coisa sobre a sua inspiração e jeito de escrita mas não custa concordar não ter esta poesia assumido nenhum decisivo alinhamento de corrente pois, como dito nas palavras do seu autor,  “quanto ao estilo formal dos poemas, não há um só estilo ou mesmo estilo algum, ao menos premeditadamente ideado”…o certo é que a palavra é por ele tratada com elaboração minuciada: e é esse o seu recorte, o seu “estilo”.

Então, assim se faça: leia-se e que corra mundo, o especial mundo dos que leem poemas, pois é para isso que este “em três pretos pontos” é dado à estampa.