O início dos trabalhos, esta
manhã, foi marcado pelo minuto de silêncio em memória de Monsenhor Cónego Melo,
fundador e presidente da Turel e um dos principais impulsionadores deste
congresso, que faleceu este fim-de-semana, em Fátima, de forma inesperada.

Presente na sessão de abertura, o
Presidente da Câmara lembrou também o seu conhecimento pessoal do Cónego
Eduardo Melo, afirmando que, na ausência do principal organizador, manter  o congresso seria “
a melhor forma de homenagearmos
quem hoje, perante esta plateia, se sentiria feliz e realizado”. Nas palavras
que dirigiu à vasta plateia, reunida na sala de congressos do Novotel Vermar,
Macedo Vieira afirmou a urgência de se “aprofundar a relação entre turismo e
identidade cultural”, o que implica que, como disse, “o turismo cultural não seja considerado apenas como a venda
de um produto a retalho ou em pacote, porque o acto cultural é, sempre, por
definição, um intercâmbio, uma troca de ideias e de conhecimentos “. Para o Presidente
da Câmara Municipal, “o turismo, para ser efectivamente cultural, tem de privilegiar
a qualidade do património construído e natural, a paisagem, o monumento ou o
museu, mas também a festa, a vida das comunidades humanas que persistem na
preservação dos seus saberes e da sua cultura”.

Uma visão partilhada por Luigi Cabrini, da Organização Mundial do
Turismo (omt), que nesta sessão de
abertura defendeu também que “importa ter uma visão ampliada do turismo, que vá
mais além do lado economicista”. Para o representante da omt, este é um “inestimável instrumento
de conhecimento e de descoberta entre culturas e sociedades, um promotor da
tolerância e da aproximação entre povos e da paz mundial”. Durante a sua
intervenção, Luigi Cabrini revelou ainda que, durante o ano de 2007 viajaram
quase 900 milhões de turistas internacionais, o que poderá dar uma ideia dos
contactos gerados por este extraordinário movimento de pessoas.

Para o primeiro painel da manhã retiraram-se as mesas e, no palco,
ficaram só as cadeiras, em semi-círculo, viradas para o público, o que ajudou a
criar a ideia de uma conversa entre os oradores e a plateia. Uma conversa
iniciada e dirigida por Vítor Neto, que já foi secretário de estado do Turismo
e que conhece bem a Póvoa, onde participou em várias cerimónias oficiais e até
de inauguração de equipamentos.
E, antes
de passar a palavra à representante do Ministério do Turismo israelita, Vítor
Neto lembrou que não há turistas “monoculturais”, isto é, que se desloquem para
outro país com um único objectivo, o que significa que acabam sempre por
contactar com experiências e por procurar outras realidades para além daquelas
que estiveram na origem da escolha do destino turístico.

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Na sua intervenção, Dolores Perez
Frias centrou-se sobre o seu país, Israel, óbvio destino do turismo religioso,
que, em 2007, recebeu dois milhões e 200 mil turistas e que, no ano 2000,
coincidindo com a visita de João Paulo II, atingiu o maior número de visitantes
de sempre: dois milhões e 500 mil. Israel investe na oferta turística, tendo já
mais de 70 mil pessoas empregadas directamente neste sector e, como revelou
Dolores Frias, a experiência religiosa tem tal impacto que 73 por cento dos
turistas repete a viagem.

O Caminho de Abraão é um interessante
projecto, que procura criar uma rota semelhante ao caminho de Santiago, mas
atravessando países do médio oriente. Fernando Latorre, da Universidade de
Harvard, impulsionadora do projecto, explicou que este foi idealizado há cinco
anos e que envolve a construção de uma extensa rede de contactos com
autoridades e populações locais nos países atravessados por este caminho, que
começa em Harran, na Turquia e termina em Hebron, Israel, num percurso de 1100
quilómetros, atravessando a Líbia, Síria e Jordânia.

 Neste painel da manhã
participaram ainda Fernando Moniz, da Comissão Europeia, que abordou as várias
medidas no contexto europeu para dinamizar o turismo, e Monsenhor Novatus
Rugambwa, da Santa Sé, que lembrou a importância de os turistas possuírem
conhecimentos de base antes de visitarem um destino de interesse cultural e
religioso, bem como os perigos de o turismo poder agir de forma negativa sobre
aspectos culturais e religiosos de certas populações. Ruben Lois, director
geral do Turismo da Galiza encerrou os trabalhos desta manhã, abordando o
Caminho de Santiago e a sua importância no desenvolvimento do turismo na
Galiza.

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De tarde, sob a moderação de
José Cadima Ribeiro, da Universidade do Minho, o debate centrou-se no Turismo
Cultural. Maria José Coelho, representante do Turismo de Portugal, referiu-se à
realidade nacional, onde se procura investir na criação de estruturas que
fomentem o turismo de base cultural. Designado como “Touring Cultural”, este
tipo de turismo atrai, para já, principalmente visitantes vindos da Grã
Bretanha, Espanha, França, Escandinávia e Alemanha. As regiões mais procuradas
são Lisboa, Centro e Norte do país e o Plano Estratégico Nacional de Turismo (pen 2015) engloba o “Touring Cultural” e
paisagístico como um sector a privilegiar. Aqui há que preservar o património
cultural e investir em estruturas de apoio de grande qualidade, para atrair um
tipo de turista muito específico e Portugal tem todas as potencialidades para
desenvolver este tipo de turismo. A Rota dos Frescos, no Alentejo, e a Rota do
Românico, no Vale do Sousa, foram dois dos exemplos apresentados por Maria José
Coelho, como casos de sucesso no “Touring Cultural”.

De tarde prossegue a análise
dos casos do Brasil, com a participação de Delma Andrade, do Ministério do
Turismo do Brasil, da Espanha, com Elena Vadillo, da Secretaria de Estado do
Turismo e Comércio de Espanha, de França, com Chantal Le Rai-Leroy e de Itália,
com Armando Peres.

O Congresso de Turismo Cultural e Religioso prossegue no Novotel Vermar,
até dia 24 e, a par dos trabalhos agendados, há ainda, no mesmo espaço, uma
interessante mostra de artesanato. Amanhã, a manhã será dividida por várias
mesas de debate e à tarde prosseguem as exposições dos oradores convidados.