A apresentação será feita por Paula Morão que revela já um pouco do
conteúdo da obra: «Como o subtítulo indicia, este é o segundo volume do diário
de Luísa Dacosta. O primeiro (Quimera, 1992; ASA, 2005) registava uma escolha
de fragmentos diarísticos datados de entre 1948 e 1987; a abrir, epígrafes de
Camilo Pessanha e de
Cecília
Meireles, e logo a seguir o prefácio, que começa assim: “Na água do tempo, um
olhar naufragado”. Bastará agora que, ao enlaçar esse livro editado em 92 com o
que ora se apresenta, se salientem elementos com espelho, que aliás,
poderíamos, se espaço houvesse, corroborar com outros dos volumes da obra de
Luísa Dacosta; mantém-se, com efeito, um conjunto de traços estilísticos e
formais que justificam a coesão da Obra, assim mesmo, com maiúscula, para
reforçar esses traços de união.  No
segundo volume, lá estão de novo as epígrafes de Cecília Meireles e da
Clepsydra, acrescentadas dos dois tercetos do soneto de Sá de Miranda “O Sol é
grande”, no seu conjunto insistindo em autores dos mais caros da nossa
diarista, como já ficava claro no primeiro tomo do diário em esparsos lugares
dos escritos de Luísa; com a insistência reiterada, não se trata apenas de
afirmar uma linhagem em que a autora se revê, mas de o fazer por dentro de
questões temáticas essenciais a um repertório 
de temas e motivos constantes, se não obsessivos…”.

A escritora, que no ano passado ofereceu o seu espólio à Câmara
Municipal, já apresentou alguns dos seus livros na nossa cidade com a qual
mantém há muitos anos uma profunda ligação, tendo sido nomeada “cidadã poveira».

Luísa Dacosta nasceu
em Vila Real, em 1927. Na Faculdade de Letras de Lisboa terminou o curso de
histórico-filosóficas, mas não a licenciatura, e sobre a sua formação a
escritora revela: ”As minhas universidades foram as mulheres de Aver-o-Mar, que
murcham aos trinta anos, vivem e morrem na resignação de ter filhos e do os
perder, na rotina de um trabalho escravo, sem remuneração, espancadas como
animais de carga, e que mesmo afeitas, num treino de gerações, às vezes não
aguentam e se suicidam (oh! Senhora das Neves! E tu permites!) depois de um
parto, quando o mundo recomeça num vagido de criança! Às mulheres de Aver-o-Mar
devo a língua, ao rés do coloquial.”

Professora do ensino
oficial, Luísa Dacosta começou a sua vida literária em 1955 com o livro de
contos Província. No domínio da
ficção, editou: Vovó Ana, Bisavó Filomena
e Eu
(1969) e Corpo Recusado (1985).
No campo da crónica, publicou Aver-o-Mar
(1980) e Morrer a Ocidente (1990). Na Água do Tempo (1992) constitui um
diário, e no campo ensaístico e crítico escreveu Aspectos do Burguesismo Literário (1959) e Notas Literárias (1960).

Em 1970 iniciou a
escrita de livros para crianças: O
Príncipe que guardava Ovelhas
(1970), que foi distinguido pela Internacional Board on Books for Young
People
como um “excepcional exemplo de literatura com interesse internacional”;
O Elefante Cor-de-Rosa (1974); A Menina Coração de Pássaro (1978); Sonhos na Palma da Mão (1990); Lá vai Uma Lá vão Duas… (1993); e outros
títulos.

Na sua actividade de
tradutora, traduziu obras de Nathalie Sarraute e Simone de Beauvoir. Colaborou
também em numerosos periódicos, de que podem destacar-se: Colóquio/Letras, O Comércio
do Porto
, Jornal de Notícias, Raiz e Utopia e Seara Nova.

Interessam-lhe
sobretudo as temáticas dos quotidianos vulgares e a situação da mulher. Os seus
livros situam-se num registo em que um sabor autobiográfico se mistura à
crónica e ao conto.

Com a obra Na
Água do Tempo
, ganhou, em 1992, o Prémio Máxima. Em 1994, obteve o Prémio
Calouste Gulbenkian da Literatura para Crianças para o melhor texto para
crianças do biénio 1992-1994, e em 2001 foi apresentada a sua candidatura ao
Prémio Andersen pelo conjunto da sua obra para crianças pela Associação
Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil e Juvenil. Também nesse ano
foi-lhe atribuído pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto o
Prémio “Uma Vida, Uma Obra”. Em 2004, foi distinguida com o Prémio para a área
do Ensino no âmbito da iniciativa da Cooperativa Árvore comemorativa dos 30
anos do 25 Abril e dos 150 anos da morte de Almeida Garrett. Em 2007, o seu
livro O Rapaz que sabia acordar a
Primavera
, ilustrado por Cristina Valadas, obteve o Prémio Nacional de
Ilustração.