S.to André Apóstolo.

Séc. XIX (?). Assinado: Santos f. Porto.

Gravura s/ papel. Col. MMEHPV – Nº Inv.º G-99.

Gravura da imagem de Santo André Apóstolo. Reproduz a iconografia da escultura antiga, em madeira, conservada na Capela de Santo André de Aver-o-mar, no concelho da Póvoa de Varzim.

Os vincos no papel atestam que este foi dobrado para ser colocado numa moldura, a qual terá sido afixada na parede de uma casa de pescador poveiro. Este documento foi recolhido e guardado no Museu da Póvoa pelo seu fundador, António Santos Graça, por ilustrar a tradição desta comunidade que trazia, quando regressava das romarias aos santos das suas devoções, os registos das Imagens e as colocava nas paredes da casa, ou no mealheiro onde guardava as esmolas a elas destinadas.

António dos Santos Graça, no seu livro, “O Poveiro”, editado em 1932, descreve de feição viva e clara, as devoções e tradições relacionadas com S. André, particularmente na sua capela de Aver-o-mar:

“O Poveiro, homem do mar, é um crente sincero. (…) Pelas paredes das camaretas estão dependurados os migalheiros dos santos da sua devoção, onde bota as esmolas todas as vezes que faz a companha e dela lhe vem resultados satisfatórios. Pode, nos Invernos, estalar de fome e esta obrigá-lo a empenhar os haveres e a andar por essas aldeias fora, de porta em porta, das casas dos lavradores, a pedir a esmolinha para o «poveirinho que o Senhor não dá do mar», que o dinheiro que neles está – e que lhe podia matar a fome muitos dias – é sagrado, não se lhe toca!

(…) Dentro da sua crença, o Pescador das Almas, é o Santo André. É, portanto, a este santo que o Poveiro suplica o alívio das penas a que estão condenadas no Purgatório as almas dos seus defuntos.

Santo André venera-se na sua capelinha em Abremar, deste concelho, ereta no areal em frente ao penedo onde, segundo a tradição, o santo deixou vincada uma pegada quando por aí andou na sua faina do mar.

A sua festa é no dia 30 de Novembro – mês de Santo André. Na madrugada desse dia, bandos numerosíssimos de homens e mulheres, com lampiões, vão a pé, areal fora, até à capelinha a rezar novenas. Chegados ali, prosseguem nas orações, dentro e à volta do templo, sufragando as almas.

Na volta toda essa gente vem a entoar cânticos. Uma mulher do grupo recita uma súplica e logo todos respondem em coro:

Resgatai as almas.

Ò Pastor Eterno;

Daquele lugar,

Junto ao Inferno.

Mas Santo André não é, na crença do Poveiro, somente o pescador das almas. Ele é o seguro protetor do barco sardinheiro. Novena de Santo André com toada de sardinha a «fazer-lhe romaria» é a melhor esperança para o poveiro de um bom Janeiro:

Santo André das Almas,

Pedi ao Senhor,

Que nos dê sardinhinha,

Pelo seu amor.

É também crença das moças solteiras que atirando uma pedrinha para cima do telhado da capelinha no dia da romaria, o santo lhes faz o milagre de casarem nesse ano. A pedra é atirada sempre com uma súplica:

Vai pedra abençoada,

Para eu pró ano vir casada.

 Santo André uma pedrinha,

Para eu pró ano vir casadinha.

Cf. GRAÇA, António Santos – O Poveiro. Usos, costumes, tradições e lendas. Ed. do autor, Póvoa de Varzim, 1932, pp. 91, 97,98.