Colar articulado da Vila Mendo, Estela
Século II a.C. Ouro
Réplica. 1996.

Conjunto de sessenta e sete peças essencialmente agrupadas em cinco tipos diferentes: quatro deles, utilizando como base o prisma retangular, executado numa fina folha dobrada e depois soldada num paralelepípedo oco, variam na aplicação de diferentes motivos decorativos geométricos levantados a punção ou soldados; alguns associam campânulas e pingentes. Nestes últimos, a suspensão faz-se mediante dois pequenos aros. Oito contas bicónicas, formadas por duas lâminas finas dobradas em tronco de cone, soldadas pela base maior com decoração a punção no interior, completam o agrupamento das peças integrantes. [Depósito da Câmara Municipal do Porto no Museu N. Soares dos Reis]

O exemplar que pode ser observado na vitrine do Museu da Póvoa de Varzim é uma réplica realizada em 1996, por ourives de Sobradelo da Goma, Póvoa de Lanhoso, por encomenda à Firma António Augusto e Filhos, tradicional ourivesaria da Póvoa de Varzim.

TESOURO DA ESTELA

Nos limites entre os concelhos de Esposende e Póvoa de Varzim, subsistem algumas bouças de pinheiro entrecortadas por campos de cultivo e restos das masseiras onde se pratica uma intensa atividade agrícola. São os terrenos da Vila Menendi, ou Vila Mendo, alvo de uma carta de couto de Afonso Henriques, mas onde, um milénio antes, se havia erguido uma Vila romana.

Em 1907, algures nestes terrenos, os achadores de ocasião encontram um pote de barro e, dentro deste, um par de arrecadas de ouro, uma cabeça de torques e um extraordinário colar articulado. Havia, ainda, uns pedaços de prata e ouro que vieram reforçar, já na época dos achados, a ideia da existência de uma “escola” de ourivesaria que estaria localizada no território da Cividade de Terroso.

Relativamente aos tesouros de Estela e Laúndos, estamos perante joias castrejas com uma datação que rondará os séculos III-II AC. Considerando a quantidade e diversidade destas arrecadas e outras peças de ourivesaria, quer em território nacional, quer na Galiza, podemos considerar que este corresponde a um período de riqueza e abundância entre as comunidades castrejas, talvez resultante dos contactos e comércio com os povos mediterrânicos. Aliás, as características do colar e outros congéneres sugerem, claramente, estarmos mais perante influências mediterrâneas orientalizantes, do que de influências continentais ou da europa central.

José M. Flores Gomes

BIBLIOGRAFIA

SILVA, Armando Coelho Ferreira da – A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal (Tese de Doutoramento, FLUP). Paços de Ferreira, Câmara Municipal de Paços de Ferreira / Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins, 1986.

GOMES, José Manuel Flores – Cividade de Terroso e Vila Mendo. Aspetos da Proto-história e Romanização do Litoral Minhoto (Dissertação de Mestrado em Arqueologia). Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1996.

GOMES, José Manuel Flores & CARNEIRO, Deolinda Maria Veloso – Subtus Montis Terroso. Património Arqueológico no Concelho da Póvoa de Varzim, Póvoa de Varzim, Câmara Municipal da Póvoa de Varzim / Museu Municipal, 2005.