CE – A escrita de Amadeu Baptista é sobretudo no âmbito da poesia…

 
AB – Sim, eu só escrevo poesia.

 
CE – Poder-nos-á descrever um pouco a poesia de Amadeu Baptista?

 
AB – Sou indisciplinador de mim próprio. Todos os dias me obrigo a ver as coisas de maneira diferente, numa tentativa de estar sempre “do contra” para tirar o maior partido de cada coisa.

 
CE – Para romper com a norma e tentar enxergar a realidade por um prisma diferente?

 
AB – Para ver o contraditório. As coisas são sempre aquilo que são e o que não são.

 
CE – Vê , então as realidades de uma forma dual?

 
AB – Ou mais…Quanto mais faces tiver o cubo, maior a sua sétima face.

 
CE – E será, portanto, mais rica a síntese final?

 
AB – É isso.

 
CE – E a próxima publicação?

 
AB – Nunca programo muito o que vou fazer a seguir. Mas estou muito envolvido num projecto a que me propus. É um projecto muito vasto, ligado à área das artes, à pintura, à escultura mais quinhentos poemas como baliza final.

 
CE – Consegue fazer uma síntese da evolução da sua poesia?

 
AB – Está nos Antecedentes Criminais! É uma antologia da minha poesia desde 1982 até 2007…São 25 anos de actividade literária…

Em relação à sua pergunta, todas as pessoas evoluem não só porque as coordenadas se alteram, a procura também, mas sobretudo devido a um intenso e persistente trabalho…

Quanto à temática, é aquela que, classicamente, atribuímos à poesia: o amor e a morte, Eros e Tánatos, o sexo e a libido…A Vida, em suma. Ou, em sumo…

 
CE – Uma frase que defina a sua poesia?

 
AB – Não tenho uma definição. Quando tiver deixarei de escrever. E, agora, vou entrevistá-la a si…já escreveu alguma coisa?

 
CE – (risos) Nada que valha a pena publicar…Só lamechices que já foram para o lixo!

 
AB- O segredo é o distanciamento, acompanhado do conhecimento. Não é preciso estar perto das coisas para o dizer o que é ou como são, mas apenas suficientemente próximo para depois ter o conhecimento. É necessária a acutilância e um pouco de sobranceria…

 
CE – E vai publicar algo em breve?

 
AB – Neste momento, tenho, talvez, quatro livros a serem publicados até ao final de Maio. Mas o que me interessa não é a publicação. É escrever o livro seguinte. Isso é que é preocupante.

 
CE – E quais são os títulos?

 
AB – Bom, são O Bosque Cintilante que ganhou o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, Outros Domínios, que ganhou o Prémio Literário Florbela Espanca; Poemas de Caravaggio, Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire e Sobre as Imagens que ganhou o Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica 2008. Tudo isto num espaço de seis meses…