CE – Professor Eduardo Lourenço, como sente o ambiente à volta do Correntes d’Escritas?
EL – Para mim, que estou lá fora, é uma ocasião para conhecer, trocar impressões, particularmente com as gerações mais novas, que conheço menos bem…
CE – E quanto a novas publicações?
EL – Penso que este ano poderei lançar o meu livro Eros e Cristo, uma promessa que ando a fazer desde há dois anos a esta parte e que não tenho conseguido cumprir até hoje…
CE – E acerca da temática do novo livro?
EL – Trata-se de uma proposta de leitura da ficção portuguesa desde o romantismo até hoje, que pode fazer incidir ou trazer uma nova luz (relativamente à forma de conceber a literatura portuguesa), se se pensar no que é que move a cultura portuguesa – o conflito latente entre a ética, o cristianismo e as experiências da natureza humana. É uma chave de leitura de uma vertente explorada pelos nossos ficcionistas desde o Garret. Pretendo, sobretudo, sistematizar essa temática, sobretudo a forma como se encadeia esse percurso.
Já tratei esse tema lá fora, há alguns anos atrás dei um curso sobre esta questão, em Massachussets, utilizando o discurso na forma oral. Mas não passei à forma escrita…dá muito trabalho e eu sou preguiçoso!
Na Brown University, em Massachussets, onde está o Professor Onésimo Teotónio de Almeida…
CE – E em relação a Eça de Queiroz, como vê essa dicotomia?
EL – É um caso paradigmático por excelência porque foi ele que deu, pela primeira vez, a esta temática a primeira expressão ficcional de uma forma expressa. Esta questão esteve sempre latente, mas foi ele que fez dela o centro da própria obra. Mas não é o único. Além dele existem também o Aquilino Ribeiro, Jorge de Sena, José Régio…
CE – E em relação a José Rodrigues Miguéis?
EL – José Rodrigues Miguéis ainda não está muito presente na opinião mais comum, na nossa literatura moderna como devia ser, mas é um autor que aprecio imenso. No Brasil, participei numa homenagem a Miguéis juntamente com David Mourão-Ferreira, Joel Serra (historiador), altura em que publicámos um livro em sua homenagem.
É um autor sério, preocupado, sensível com os grandes problemas da humanidade…A questão de Fátima, de que trata o livro, é uma questão que implica tantos interesses… deve ter encontrado muita resistência…
E as pessoas andam pouco a par da História, compreendem é que Fátima se tornou um sítio com uma aura muito especial, que movimenta emoções e influencia convicções cívicas, morais e religiosas…Fátima tornou-se a “Meca” lusitana e cada um vê isso à luz da sua cultura e tradições…