J.J. Armas Marcelo foi vencedor do prémio Torrevieja com o best-seller Quase todas as mulheres. Fala-nos de livros e literatura, uma paixão a que se dedica de corpo e alma.
CE – Os livros apaixonam-no?
J.J.AM – Quando um romance não me provoca, o discurso não me suscita interesse, isto é, quando é previsível, ainda que bem escrito.
Eu leio cerca de três romances por semana… E quando fazia o programa Os livros lia um por dia! Agora só leio o que quero.
CE – Que maravilha!
J.J.AM. – Agora mandam-me os livros. Mas quando vejo algo que me agrada, compro-o. E é quando lê-lo me sabe melhor…!
CE – Como surgiu a sua escrita?
J.J.AM – Comecei a ser escritor sem contar, por emulação. Eu pretendia ser filólogo grego e latino, foi para isso que estudei.
CE – A propósito de Quase todas as Mulheres há uma intertextualidade patente com O Leopardo de Tomasi di Lampedusa?
J.J.AM – Não só uma intertextualidade mas uma homenagem a Lampedusa e à literatura italiana.Para escrever o romance, fui percorrendo toda a ilha onde ele viveu, recolhendo material histórico. O livro surgiu primeiro como um ensaio que depois se foi convertendo em romance. Ganhou o Prémio Torrevieja… Estou muito contente com esse livro. Em Espanha, teve uma boa crítica, por um lado e, por outro, suscitou algum desinteresse…Mas o mercado, em Espanha, é um pouco esquisito… Mas eu também sou um estranho… Sou um canário (ri, bem-humorado).
CE – E o que pensa do escritor Francisco Umbral, falecido há pouco tempo, como crítico literário?
J.J.AM – (gargalhada) Conheci-o pessoalmente! Ele não é, não era, exactamente um crítico, era antes um leitor que emitia opiniões sobre livros…Um crítico estabelece uma hierarquia entre escritores, utiliza os cânones, é muito técnico, académico. Umbral era um leitor. Sabe, oitenta por cento dos escritores são loucos e, com a escrita, curamos essa loucura. Eu curo-a, falando comigo próprio. E escrever é ler devagar. Por isso, não se pode ser escritor sem se ser leitor.
CE – É verdade…
J.J.AM – No entanto, há no escritor um pecado de soberba. Naquele escritor que, chegando a determinada idade, deixa de ler, alegando que passa a escrever a tempo inteiro e, com isso, a dada altura deixa de estar a par do que se faz…
CE – E o que pensa de Cabrera Infante como autor-leitor-crítico, que escreveu um romance enciclopédico como Três Tristes Tigres?
J.J.AM – É um génio. É um criador do seu próprio estilo e inventor da sua própria linguagem. Ele é cubano e eu próprio sou também muito cubano e já tenho publicados dois romances sobre Cuba Así en La Habana como en el Cielo e El Niño y el Cocinero del Papa (que ainda não estão publicados em Portugal…). Eu fumava “puros” com CabreraComprava-lhe tabaco em Canárias, uma vez que ele não podia ir a Cuba. Cheguei a fazer-lhe um “puro” com tabaco local canário e chamei-o de “Cabrera” e era constituído por uma liga de tabaco especial…
À Miriam Gomez, sua esposa, comprava-lhe chapéus (sorri). Ofereci-lhe vários, inclusive do Equador. Cheguei, uma vez, a uma tertúlia, na qual ele participava, com uma caixa de tabaco para ele e um chapéu para Miriam…
CE – E o próximo livro de J.J.Armas Marcelo?
J.J.AM – Estou a escrever as minhas memórias e a preparar um novo romance. Em Setembro já sai um livro com artigos meus publicados. E em Junho do ano que vem, em 2009, será a vez das minhas memórias…