CE – A presença de Leonardo Padura no Correntes d’Escritas de 2008 está relacionada com a publicação de um novo romance?

 
LP – Sim, este ano apresento La Neblina del Ayer, em português, A Neblina do Passado.

 
CE – Fale-me um pouco das personagens…

 
LP – É um romance onde aparece novamente a personagem de Mário Conde, catorze anos após ter deixado a polícia. Passa-se no ano de 2003 e desenvolve-se em dois momentos históricos: o presente de Mário Condeno romance, em 2003, em que este se dedica a vender livros em segunda mão; e nos anos 50, à volta de uma cantora de boleros, da qual nunca mais se obteve notícias…

É um romance que tem a ver com os livros e a bibliografia cubana do século XIX, com a música…

 
CE – Há, de certa forma, uma intertextualidade com Cabrera Infante e os seus Três Tristes Tigres

 
LP – De uma certa forma, este romance é uma homenagem a Três Tristes Tigres, sobretudo na história passada nos anos 50. As personagens movem-se no mesmo mundo de Cabrera Infante. Esta é também a Havana de Havana para um Infante Defunto, também da sua autoria…São os dois grandes romances de Cabrera Infante.

 
CE – E quais as afinidades e diferenças entre ambos?

 
LP – Todas as que possam existir entre dois escritores que escrevem sobre o mesmo mundo, a nostalgia, a música, a linguagem habanera, e que compartilham o mesmo amor por La Habana. Devo dizer, contudo, que ele não era na realidade, habanero. Mas eu sim, sou habanero.

 
CE – A diferença reside então nas personagens…

 
LP – Sim, as personagens são diferentes. Mário Conde é uma personagem muito difícil de explicar, porque aparece em seis romances. Conheço-o muito bem e, ao mesmo tempo, custa-me descrevê-lo, até porque ele foi evoluindo. Porque pode-se mudar de opinião, mas não de princípios. Mário Conde nunca mudou de princípios. Nos primeiros quatro romances era polícia e agora vende livros velhos – isso vem um pouco da minha experiência pessoal porque o meu pai tinha uma livraria – pode-se identificar nele uma nota de desencanto, de nostalgia. É, também, um homem culto e que cultiva um sentimento de pertença a um lugar: Cuba. Mário Conde representa as experiências e as frustrações da minha geração. É um sentimental.