CE – Manuel Rui, falemos um pouco da sua obra, tanto em relação à prosa como à poesia, que estamos habituados a ouvir em vozes como as de Paulo de Carvalho ou Carlos do Carmo… A sua escrita está, sobretudo ligada à luta pela independência do seu país ou com a denúncia de regimes ditatoriais, atentados contra a liberdade de expressão e outros direitos fundamentais…

 
MR – Bom, eu comecei primeiro, a escrever poesia de amor, sentimental… consegui publicar pela primeira vez no Jornal de Angola conotado com a luta pela independência, numa coluna chamada Roda Gigante.
Quando fui para Coimbra estudar, aproximei-me de uma revista conotada com o neo-realismo, a Vértice… Ainda em Coimbra, publico o meu primeiro livro Poesia sem Notícias, vendido clandestinamente… Posteriormente, apoiado por Manuel Ferreira, publicado na Plátano, sai o meu livro Regresso adiado, o meu primeiro livro de ficção, já no princípio do fim do fascismo… A partir daí, foi uma rampa… poesia, romance, ensaio poético, crónica… Até ter sido amarrado às Correntes da Liberdade da Escrita… (sorriso)

 
CE – Manuel Rui vê as Correntes  d’Escritas como um espaço ou lugar de utopia?

 
MR – As Correntes d’Escritas têm vários aspectos singulares. O mais importante, como espaço para escritores, artistas, intelectuais. Para além disso, desenvolve-se um espaço de afectos que já é quase uma família, onde se agregam novos elementos, onde percebemos as palavras que são ditas com grande responsabilidade, relativamente aos temas que são escolhidos… O que obriga os próprios intervenientes a aperfeiçoarem a sua intervenção crescente no imaginário, transformando aquilo que parece já conhecido, numa multiplicidade de linguagem onírica que estimula a criatividade…

 
CE – Ficamos mais ricos, de cada vez que acaba um Correntes d’Escritas?

 
MR – Sim. E também há outro aspecto importante: o facto deste encontro ocorrer, não num grande centro ou numa capital, mas numa cidade periférica…

 
CE – E qual a síntese que extrai do debate em que participou?

 
MR – Estávamos em sintonia total. Havia muito magnetismo entre nós, os que estávamos na mesa… O Carlos do Carmo cantou, no final, uma música com um poema meu…

 
CE – Para o ano, cá o esperamos…

MR – (rindo) Se entretanto a Espanha não ocupar isto…