A Cidade Tradicional

Tempo médio – 1h30

Kms – 2.7 km

A Póvoa é uma cidade de pergaminhos milenares: a referência documental mais antiga data de 953 e consta na carta de venda do prédio rústico de Villa de Comite. O reguengo Varazim de jusão recebeu, em 1308, a sua primeira carta de foral, mas só em 1514 viria a alcançar uma autonomia plena com a carta de foral que D. Manuel I lhe concedeu.

O povoado medieval teve o seu pólo numa zona um pouco interior e daí se foi expandindo para poente, em direção à praia. No século XVI, desenvolveu-se um núcleo urbano na área hoje correspondente às imediações da Matriz, e que se tornou o centro municipal de uma vila em pleno progresso.

Ponto de partida: Posto de Turismo

Saindo do Posto de Turismo, vire à esquerda e atravesse o portão de acesso à Praça Marquês de Pombal. Aqui, aproveite para admirar uma original escultura, da autoria de Margarida Santos, em homenagem a um grande autarca desta cidade, Dr. David Alves, que foi o grande responsável pela feição balnear da Póvoa de Varzim.

Siga agora para o Mercado Municipal, onde poderá encontrar um mundo privilegiado da mulher, quer como vendedora quer como compradora. No meio de um mostruário de peixes e um mar de cores de frutas e legumes, a mulher, peixeira, lavradeira ou citadina, dá-lhes o toque humano, muitas vezes carregado de significado etnográfico.

Chegando aos semáforos, vire à direita, pela Av. Mouzinho de Albuquerque, em direção ao Largo das Dores, onde se concentram importantes serviços públicos, como o Hospital e o Palácio da Justiça. Antes, porém, espreite para norte, pela Rua Conselheiro Abel Andrade, onde encontrará a Escola Secundária Eça de Queirós. Nesse quarteirão, concentram-se estabelecimentos de todos os graus de ensino e, como que a coroar esta área de aprendizagem e saber, também a Biblioteca Municipal se encontra aqui instalada. Este edifício resulta numa feliz e harmoniosa conjugação entre a arquitetura tradicional e a moderna. Do conjunto da construção destaca-se a fachada em granito trabalhado do antigo Orfeão Povoense, que contrasta com a estrutura leve e envidraçada do corpo do edifício. Junto à Biblioteca, repare na estátua de Rocha Peixoto, da autoria do escultor Hélder de Carvalho

De regresso ao Largo Das Dores há que reparar melhor no seu conjunto arquitetónico, onde se destacam dois templos: o da Misericórdia e o da Senhora das Dores. A igreja da misericórdia, situada a poente do hospital, enquadra-se num espaço amplo que faz realçar ainda mais a sua frontaria, onde a colagem de volumes arquitetónicos de diferentes estilos (neo-clássico em baixo e barroco em cima) lhe conferem grande originalidade. Concebida por Adães Bermudes, foi benzida em 12 de Agosto de 1914. A nascente do largo está a Igreja Da Senhora Das Dores. De formato pentagonal e estilo barroco, data dos finais do século XVIII, embora só em 1866 tenha adquirido o aspeto atual com a conclusão das 6 pequenas capelas circundantes. Representadas por esculturas de tamanho natural, estão aqui ilustradas seis dores de Nossa Senhora, estando a sétima no próprio altar-mor. Tem um carrilhão manual de 16 sinos de bronze.

Feita a visita à igreja das Dores siga pelo arruamento que lhe fica a sul. Aqui deparamo-nos com um espaço ajardinado onde repousa um fontanário de ferro forjado.

Continuando em frente, vire à esquerda, pela Rua da Moita e rapidamente encontrar-se-á na Rua de S. Pedro, onde deve virar à direita, rumo à Igreja Matriz. Inaugurado em 1757, este é o templo mais antigo e significativo da cidade. De traça barroca, o seu interior está recheado de lindos altares de talha dourada «Rocaille» e de belos e inesperados pormenores decorativos, como é o caso da presença de figuras de sereias nas pias de água benta.

Na área circundante da igreja, encontram-se algumas construções várias vezes centenares. Na Rua da Igreja, à esquerda da Matriz, repare num solar com capela e nas esquinas frente ao templo outras duas, tendo sido a que está no lado direito a sede dos Primeiros Paços Do Concelho. Data do século XVI esta construção de um andar, com aspeto de residência senhorial, e que assenta sobre 5 arcos. Na sua fachada, entre as suas únicas janelas, por cima do arco central, sobressaía, em tempos, uma Pedra de Armas. A entrada lateral faz-se por uma escadaria exterior com sólido resguardo de pedra. Construído no centro cívico da vila de então, este é um dos símbolos da autonomia que o povoado foi conseguindo e que teve, no século XVI, um momento alto.        

Vire agora à direita, pela Rua da Igreja e observe os vários arruamentos que a ela vêm desaguar. É a oportunidade de conhecer algumas Ruas Tradicionais. Estas ruelas estreitas, asseadas e singelas, formam um quadro aprazível que os lampiões tradicionais reforçam. No início da Rua do Visconde de Azevedo encontrará o Arquivo Municipal, antiga «Casa dos Limas», a nascente e o Museu Municipal De Etnografia E História, a poente. Este edifício brasonado da segunda metade do século XVIII, conhecido por solar dos Carneiros, sofreu, ao longo dos anos, várias alterações de estrutura e pormenor. Fundado em 1937 pelo etnógrafo poveiro António dos Santos Graça, é um Museu com grande valor etnográfico, possuindo uma importante coleção sobre a original classe piscatória poveira.

Desça pela Rua Visconde de Azevedo. Mais uma vez repare nos enfiamentos das ruas que aí afluem. Vai encontrar o Largo Eça de Queiroz, enquadrado pela casa onde nasceu o escritor, um singelo cruzeiro e um Fontenário de duas bicas, construído em 1855 e recoberto em 1955, com um painel de azulejos representando a passagem bíblica de «Samaritana dessedentando Cristo».

Descendo um pouco mais, encontra-se no topo nascente da Praça Do Almada, centro cívico e verdadeira «sala de visitas» da cidade. Remodelada em 2007, à sua volta congrega-se um interessante conjunto arquitetónico e concentram-se os principais símbolos da autonomia concelhia de ontem e de hoje, como é o caso dos Paços Do Concelho. A arcada da frontaria, desenhada em 1790/91 pelo Engenheiro francês Reinaldo Oudinot, sugere a estrutura arquitetónica e decorativa da Feitoria Inglesa do Porto. Foi inaugurado em 28 de Dezembro de 1807. Entre 1908/10 sofreu profundas obras de ampliação e decoração orientadas pelo etnólogo Rocha Peixoto e pelo pintor belga Joseph Bialman: torre e azulejamento interior e exterior do edifício.

Ainda no lado nascente da Praça, o Monumento A Eça De Queiroz. O grande escritor nasceu nesta cidade em 25 de Novembro de 1845, na Praça do Almada, numa casa sinalizada por placa de bronze de Teixeira Lopes alusiva ao acontecimento. O monumento da autoria do escultor Leopoldo de Almeida foi erigido em 1952, por subscrição dos poveiros no Brasil.

No topo poente da Praça do Almada vai encontrar o Pelourinho. É constituído por uma coluna de pedra, assente sobre degraus, tendo no alto do fuste a esfera armilar, emblema do Rei D. Manuel I que deu autonomia à Povoa de Varzim, em 1514, sendo a única peça do primitivo pelourinho erigido naquele ano e reconstruído em 1854.

Siga agora pela R. Dr. Sousa Campos e pela Praça da República, até encontrar a Capela de s. Tiago. Este templo tem origem num anterior que aí existia desde o século XVI, em honra de S. Roque. No entanto, o crescimento do culto de S. Tiago justificou a mudança da invocação e a construção de um templo maior – o atual, datado dos finais do século XIX.

Ao lado direito da capela encontra-se a entrada para a Rua da Junqueira, artéria que faz a ligação do centro da cidade à praia. Repare na estátua dedicada a um notável presidente do município, Major Mota, da autoria da escultora Margarida Santos.

Rua Da Junqueira, pedonal desde 1955, tem um papel fundamental no tecido urbano. Com um forte sentido de local de encontro e uma excelente vitalidade comercial, é rica em construções do século XIX e princípios do século XX. À semelhança da Praça do Almada, estes edifícios sugerem, normalmente, uma tipologia simples de rés-do-chão comercial e dois andares, sendo de salientar a utilização de materiais de elevado apuramento estético, como é o caso do granito na marcação da estrutura da fachada e a azulejaria bastante diversificada. A esta riqueza de composição de alçado acrescente-se, ainda, as belas varandas de ferro forjado. Já no Largo Dr. David Alves, e seguindo rumo ao mar, há a referir o edifício da Residencial L. B., o mais antigo estabelecimento hoteleiro em atividade. Aqui se instalava o grande escritor romântico Camilo Castelo Branco, aquando das suas estadias na Póvoa.

Poderá regressar ao Posto de Turismo percorrendo a Rua da Junqueira no sentido inverso, aproveitando para fazer algumas compras nas inúmeras lojas de comércio tradicional aí instaladas.