Entre eles estavam dois vencedores do Prémio Literário Casino da Póvoa, Gastão Cruz (2009) e Ana Luísa Amaral (2007), a que se juntaram Carmen Yáñez, Ivo Machado, Uberto Stabile e Francisco José Viegas, como moderador.

Gastão Cruz referiu que “mesmo no tempo do circuito integrado, a poesia não está livre de simbolismos e alusões” porque “dificilmente a poesia dispensa esse forte carácter alusivo e metafórico que faz parte da sua natureza”. O escritor mencionou Baudelaire, considerado um dos precursores do Simbolismo, e sequencialmente a evolução da poesia a partir de metade do século XIX e século XX em que o uso de metáforas e símbolos é determinante, atingindo o clímax em finais de 1960. Gastão Cruz citou também alguns poetas que em Portugal anunciaram a modernidade como António Nobre e Gomes Leal, Cesário Verde pela possibilidade de transfiguração do mundo real e ainda Camilo Pessanha e Mário de Sá Carneiro pela independência da imagem dentro do poema que lhe dá uma dimensão especial, sendo difícil destrinçar a imagem do símbolo.

Ivo Machado, na sua viagem pela memória às ilhas, provou que não é possível fugir aos símbolos, terminando a sua intervenção com a frase “A palavra camélia é mais bela do que a flor”. O escritor da Terceira referiu-se à “incessante busca e miragem dos poetas”, procurando dar um sentido à vida e acrescentou “a poesia não oferece uma verdade sobre as coisas mas um modo singular de nos acercarmos dela”. Ivo Machado pressupôs que “os sonhos poderão ser criações poéticas”, e continuou “os sonhos são poemas sem palavras, como se elas mesmas tivessem conhecido a sua desnecessidade”. “As palavras são mais belas do que aquilo que simbolizam e o poema pode ampliar ou sintetizar qualquer aventura”, disse.

Carmen Yáñez demonstrou a inevitabilidade dos símbolos na poesia lendo um poema da sua autoria que reflecte o tema “A poesia não serve para nada (…)/ A poesia só serve para regar as plantas no futuro” provando que “a poesia sobrevive a todas as coisas”.

Ana Luísa Amaral encarou o verso de Paulo Teixeira como uma formulação irónica ou ideia truncada sugerindo a repontuação do mesmo: “Nua. De símbolos e alusões é a poesia”. Para a escritora, “a poesia é uma construção simbólica” e a sua linguagem é feita de “obliquidades e desvios, verdades que destabilizam rotinas e quotidianos”. Assim, pode a poesia fundir simplicidade, inocência, ambiguidade e inscrever-se no espaço do desejo, acrescentou, referindo-se ainda à intemporalidade na poesia e na arte, “para iludir o tempo finge que és o tempo. O regresso ao passado não é possível”.

Uberto Stabile recusa deixar a poesia nua, disponível para “autópsia” porque vê nela a sua salvação, “escrevo por necessidade” e escrever poesia é uma “forma de perpetuar tudo o que amo e me faz feliz, tornando as coisas visíveis e possíveis”. A poesia é uma forma de manter viva uma referência e a possibilidade de mudar o mundo, revelou acrescentando que não acredita que a poesia seja céptica ao tempo em que vive porque ele, enquanto escritor, “não me é indiferente tudo o que me rodeia”. Para Uberto Stabile, “a poesia não é de quem a escreve mas de quem a necessita”.

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