No programa “A Páginas Tantas”, moderado por Ana Daniela Soares e elencado por Inês Pedrosa e Patrícia Reis (Rita Ferro não esteve presente por doença), o Presidente da República mostrou-se honrado por participar ativamente num evento que promove o livro, os escritores e o papel da literatura na educação cultural do País, confessando sentir falta de dar aulas.

“Sinto saudades da faculdade. Uma enorme saudade. Todas as semanas vou ao meu gabinete na faculdade, mas não é a mesma coisa sem alunos e sem aulas para dar. Presidente sou 5 anos, mas professor sou toda a vida. Talvez por isso goste de estar próximo dos portugueses”, afirmou perante o painel, que, com boa disposição, tentou confirmar se este estaria disposto a candidatar-se para um segundo mandato. Marcelo Rebelo de Sousa limitou-se a responder que “são 5 anos e em 2020 logo tomarei uma decisão”.

Questionado se sentia saudades da televisão, o Presidente respondeu que sentia “menos, até porque dar aulas é uma vocação e a televisão funcionava como um prolongamento dessa mesma vocação. Soube, assim que saí, que provavelmente sairia para sempre da televisão. Há certas ortodoxias mínimas e a partir do momento em que tomei a escolha de me candidatar a Presidente da República, não me vejo a voltar ao comentário político no futuro, discutindo o partido a, b ou c. Não fica bem e sinto que devo ser comedido”, adiantou.

No entanto, o chefe de Estado reconheceu que “sempre quis ter um programa sobre livros”, recordando que quando apresentava obras na televisão, os programas eram vistos por “um milhão, um milhão e meio de telespetadores” e se “uma pequena percentagem, mesmo que fossem umas dezenas de milhares, tivessem retido algo, era já uma grande vitória para o livro.”

Acerca das suas preferências literárias, Marcelo Rebelo de Sousa mencionou “ensaios, biografias, obras históricas e poesia” e afirmou que se deve desfrutar da leitura e não apressar a mesma, sob pena de a desperdiçar. “Atualmente estou a reler textos sobre Lisboa e Porto, trabalhos académicos muito curiosos que abordam os desafios que se colocam a Lisboa e ao Porto, ainda que em menor escala. O turismo está a ser um sucesso em Portugal, os turistas querem visitar a nossa gastronomia, a nossa natureza, mas principalmente conhecer os portugueses. E de repente, os centros urbanos estão repletos de estrangeiros. É fascinante a nível cultural, é sensacional do ponto de vista humano, mas coloca problemas para a cidade a nível de identidade própria”, asseverou.

Numa emissão muito divertida e interativa, o Presidente garantiu que o “problema é acabar bem um livro” e aproveitou para questionar o painel sobre esta problemática: “Quando escrevem, já têm ideia do fim ou o livro foge-vos do controlo e o fim permanece incerto?” Inês Pedrosa respondeu que “quando o livro corre bem, o final foge-nos do controlo e as personagens ganham vida própria e enredo” e Patrícia Reis concordou que são as “personagens que me levam pela mão”, pelo que nunca pensa antecipadamente no final.

Numa última questão, o chefe de Estado perguntou às escritoras se estas colocam “sempre qualquer coisa da vossa vida nos vossos livros?” Inês Pedrosa não tem grandes dúvidas acerca da resposta, pois “indiretamente escrevemos sempre sobre os temas que nos preocupam, o que não nos faz dormir à noite.”

A escritora aproveitou a deixa para questionar o Presidente sobre as poucas horas de sono que tem por dia. Marcelo Rebelo de Sousa esclareceu que “nunca fui de dormir muito. Primeiramente devido à censura, pois tinha aulas bem cedo e a censura não tinha horas. E mais tarde, com a revolução, tudo acontecia à noite, as assembleias do MFA, os comícios, as reuniões…e desabituei-me de dormir muito à noite.”

O Presidente da República concluiu a sua intervenção com uma palavra para o mundo da literatura, saudando iniciativas como o Correntes d´Escritas, que devem ser a regra e não a exceção, pois “há muita gente nova a escrever e a ler, mas não é suficiente, tem de se ir mais longe.”

O programa com o Presidente da República será emitido hoje, às 23h00, na Antena 1. A emissora de radiodifusão é, já há alguns anos, presença assídua no Correntes d´Escritas com diversas emissões durante o evento.

Esta foi a primeira de duas emissões especiais no âmbito da 18ª edição do evento. A escritora cubana Karla Suárez será a grande convidada para falar sobre o tema da liberdade de expressão, num programa a ser gravado hoje às 21h30, no Cine-Teatro Garrett.

Acompanhe o 18º Correntes d’Escritas no portal municipal e no facebook Correntes, onde pode consultar o programa completo do evento e ficar a par de todas as novidades.