Embora intitulando-se uma conversa, a sessão foi deliciosamente dirigida à alocução de Nélida Pinõn, que, como a própria costuma dizer, “eu sou perigosa a falar, por favor interrompam-me com perguntas…”

Assim, Leonor Xavier e José Carlos Vasconcelos leram excertos do novo livro da escritora brasileira, como forma de introdução a mais uma dissertação da autora, que é este ano homenageada com o dossiê especial da Revista Correntes.

Nélida foi falando desde os tempos de adolescência e de como começou a escrever, a forma como teclava as suas histórias para a máquina de escrever, como cosia as folhas com linha e vendia os pequenos contos ao seu pai – “já nessa altura tinha noção dos direitos autorais”.

E à medida que foi amadurecendo na escrita, deixou a narrativa, libertando-se para os textos com outra estética. O trabalho foi sendo acarinhado pelos leitores, criticado severamente por alguns setores, mas a verdade é que, hoje, sublinhou Nélida Piñon, “a Literatura não me deve nada, eu é que devo tudo a ela”. Esta é uma frase “importante para me alimentar, como o pão diário”, afirmou a escritora.

“Por exemplo”, prosseguiu, “hoje, todos vocês aqui, queridos, maravilhosos, generosos, olhando para mim com afeto – vejo mal, mas estou imaginando que me olham com afeto -, tanto que eu penso, Meu Deus, devo isso à Literatura, porque a Literatura não me manteve distante do humano, inscreveu-me numa categoria do Humanismo, que me fez crescer como pessoa”.

A autora acrescentou que “somos seres mutantes, estamos em metamorfose e mudança”, e, por vezes, também apresentamos contradição. Mas é precisamente por sermos “contraditórios, que somos tão ricos e tão interessantes”, defendeu Nélida Piñon.

A escritora reafirma a ideia de que uma vida não pode ser apresentada num resumo, uma noção cada vez mais vezes repetida pela mulher que já esteve perto da morte.

Nélida Piñon acrescenta que a “vida é concebida para ser narrável e você vai narrar sobre a vida até o último suspiro” e ainda assim “com a esperança de que, ao dar o último suspiro, alguém colhe esse suspiro e continua a sua narrativa”.

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