Neste sentido, é importante que as
pessoas estejam atentas ao comportamento de quem as rodeia, principalmente dos
mais jovens, para evitar que a situação se agrave. Estas foram algumas das
principais conclusões das III Jornadas Sociais Intermunicipais que decorreram,
durante o dia de ontem, no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim, sobre o tema
“A Violência na Família – Quando o perigo mora connosco”.

O
primeiro painel, moderado por Andrea Silva, Vereadora da Acção Social da Câmara
Municipal da Póvoa de Varzim, e intitulado “Na Gestação da Violência – Sonhos versus Pesadelos” contou com a
intervenção de cinco especialistas da área.

Patrícia
Ribeiro, Coordenadora do Projecto “Mudanças com Arte” da UMAR, falou sobre
“Violência no namoro” e apresentou os resultados de um estudo realizado em escolas
EB2/3 e Secundárias do distrito do Porto. Os dados do estudo mostram a diminuição
da violência física assim como a sua quase completa rejeição como “normal” numa
relação de namoro (97% reconhece que as agressões com marca ou sem marca são
violência). Já a violência psicológica atinge um quarto dos jovens nos seus
relacionamentos amorosos. As investigadoras consideram que há necessidade ou
mesmo urgência de programas de prevenção junto dos adolescentes e jovens visto
que depois desta intervenção houve um aumento de consciencialização de 31%
sobre actos de agressão física e psicológica.

Lúcia
Rocha, Docente no ISSSP e assistente Social no Hospital de São João no Serviço
de Obstetrícia, expôs as conclusões de um estudo sobre “Violência física contra
a mulher grávida” e respectivos efeitos na saúde da mulher e do recém-nascido.
Segundo os resultados obtidos, “a prevalência de violência física durante a
gravidez foi de 9,7% e em 88% dos casos o agressor foi o pai do recém-nascido”.
“As mulheres agredidas têm partos prematuros com maior frequência e os
recém-nascidos das mulheres fisicamente abusadas têm um risco quatro vezes
superior de serem leves para a sua idade gestacional, se comparados com as
outras crianças. 74,2% das mulheres percepcionam que não teriam qualquer tipo
de apoio caso pretendessem abandonar a relação. Apela-se de facto, cada vez
mais, para a necessidade do desenvolvimento de estratégias de intervenção
direccionadas para informar, sensibilizar e educar; proteger as vítimas e
prevenir a revitimação; capacitar e reinserir; qualificar profissionais;
aprofundar o conhecimento do fenómeno da violência contra a mulher.”

Marlene
Fonseca, Psicóloga e assessora Técnica do Gabinete de Apoio à Vítima (APAV) do
Porto, enunciou os diferentes apoios disponibilizados pela Associação
Portuguesa de Apoio à Vítima a nível psicológico, social e jurídico.
Referindo-se à “Violência conjugal”, a psicóloga informou sobre as diferentes
estratégias de controlo e poder usadas pelos agressores sobre as vítimas para
manter o silêncio e ainda os factores que influenciam a permanência das vítimas
numa relação conflituosa.

Ilda
Afonso, Directora Técnica do Centro de Atendimento da UMAR, pronunciou-se sobre
a “Violência de Género” informando sobre as principais áreas de trabalho da
União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). “Já numa intervenção mais
directa com mulheres vítimas de violência, a UMAR gere duas Casas de abrigo da
Rede Pública de Casas de Abrigo para Mulheres Vítimas de Violência Doméstica,
assim como dois Centros de Atendimento com o mesmo fim”, disse.

Susana
Mota, Psicóloga na Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), fez a
apresentação do “IV Plano Nacional Contra a Violência Doméstica” explicando as
medidas principais das cinco áreas estratégicas de acção.

“Violência
sem Idade – Memórias e Experiências” deu mote ao segundo painel, moderado por
Elisa Ferraz, Vice-Presidente e Vereadora da Acção Social da Câmara Municipal
de Vila do Conde.

José
Ferreira-Alves, Professor Doutor em Psicologia na Universidade do Minho,
apresentou alguns dados da investigação nacional e internacional sobre
“Vitimação e agressão em idade avançada”, referindo que “apesar de tudo, os
idosos são os que estão em menor número entre as vítimas” e o principal motivo
de agressão a pessoas idosas é o financeiro.

“A
Institucionalização – Uma forma de Violência” foi o tema abordado por Joana
Guedes, Docente no ISSSP, que revelou que a maioria dos idosos internados nas
instituições estão lá porque não têm outra opção. A docente referiu-se ainda à
fragilidade que estas pessoas sentem, sendo que “a entrada num lar envolve
algum tipo de perda para o indivíduo. Esta fragilidade é acentuada quando não
existe uma preocupação genuína dos profissionais da instituição no processo de
acolhimento do novo residente, reconhecendo-o como um sujeito com história e identidade”.

Pinto da
Costa, Professor Catedrático Jubilado no Instituto de Ciências Biomédicas de
Abel Salazar da Universidade do Porto, expôs “As histórias que os Cadáveres nos
contam…” falou de pessoas vítimas de maus-tratos que acabam por se suicidar
ilustrando com fotografias através das quais “as histórias são contadas pelas
vítimas depois de mortas”.

Luís da Cunha, Director do Centro Distrital de
Segurança Social do Porto, deu a conhecer os vários serviços e respostas
sociais para as vítimas de violência doméstica que “devem assentar numa Base
territorial nacional e distrital e pressupor uma compreensão transversal das
mesmas, com vista à promoção de um planeamento concertado supra concelhio, que
permita uma melhor organização da intervenção, das respostas sociais e dos
equipamentos sociais, a partir da rentabilização dos recursos existentes”.