Diana Pires

Apesar
dos resultados não terem sido os pretendidos e, principalmente, coerentes com a
intensidade de treinos a que todos se sujeitaram, os karatecas agora só pensam
no próximo desafio, o Campeonato do Mundo.

São
muitas as diferenças entre o Vitalie, a Ina, a Jéssica, o Luís e a Diana: a
idade, as personalidades, os gostos e a experiência competitiva. Vitalie Certan
tem 20 anos e é aquele que conta com mais participações em provas internacionais.
A sua irmã, Ina Certan, e Jéssica Almeida, com 16 e 17 anos, participaram numa
única prova internacional, o ano passado. Quanto a Luís Silva, de 19 anos,
assume que começou “tarde” a competir fora do país. Já para Diana Pires, com
apenas 14 anos, esta foi a primeira competição internacional.

Os
cinco, acompanhados pelos seus treinadores, Fernando Miranda e Vítor Poças,
nomeadamente do Grupo Recreativo Estrelas do Bonfim e do Centro de Karaté
Aguçadourense, partilham as emoções vividas, não só neste Campeonato da Europa,
mas ao longo de tantos anos de esforço e dedicação ao Karaté.

Têm
apenas um dia de descanso semanal. Quando participam em competições ou estágios
ao fim de semana, nem um dia têm para descansar e recuperar energias. Não saem
à noite, não bebem, não fumam. E, ao contrário do que muitos poderiam esperar,
“são os heróis dos amigos”, adianta Fernando Miranda, treinador do Luís e da
Diana. Quando as provas são realizadas perto da Póvoa de Varzim, muitos amigos
deslocam-se para apoiar os atletas, um gesto importante para os karatecas:
“sentimos que somos um exemplo para eles porque, além de nos dedicarmos ao
desporto, temos boas notas”.

Da
Turquia, Luís veio desanimado. Fernando Miranda explica o que aconteceu com
este atleta: “o Luís fez uma saudação a mais e foi penalizado. Em janeiro,
houve alterações ao regulamento das provas. Muitos dos participantes neste
Campeonato Europeu tiveram oportunidade de as colocar em prática no Open de
Paris, realizado no mês passado. Infelizmente, o clube (Grupo Recreativo
Estrelas do Bonfim) e os pais do Luís não conseguiram verbas para a sua
participação”. Por esta altura, poderá estar a pensar porque seria o próprio
clube e os pais do atleta a disponibilizar verbas. O treinador volta a
explicar: “em todas as nossas deslocações, nacionais e internacionais, mesmo
que sejam em representação da Federação e do país, é o clube e os pais dos
atletas que arcam com todas as despesas, desde transportes, estadias e
alimentação. O clube não tem condições para suportar todos os gastos e, sem o
apoio dos pais, o Karaté deixaria de existir. Para a preparação para este
Campeonato da Europa, por exemplo, os atletas foram convocados pela Federação
para estágios em Lisboa, cujas despesas foram assumidas pelo clube e pelas
famílias”. Esta situação tem-se tornado insustentável para vários agregados
familiares: “muitos atletas desistiram neste último ano e muitos deles
promissores”. Vítor Poças, treinador do Vitalie, da Ina e da Jéssica, assume a
mesma posição e conta: “os gastos da participação dos atletas neste Campeonato
da Europa teria de ser comportado pelos clubes. A Federação enviou um orçamento
de €1200,00 (mil e duzentos euros) por cada atleta. Pedimos o apoio da Câmara
Municipal da Póvoa de Varzim, porque para o clube (Centro de Karaté
Aguçadourense) e para os pais este valor era incomportável. Este pedido foi
rapidamente aceite e, só com a verba disponibilizada pelo município foi
possível concretizar este sonho”. Ambos os treinadores concordam que as
condições em que os atletas viajam e a antecedência com que o fazem, na hora da
verdade, iria fazer toda a diferença. Vítor Poças conta que “os atletas
viajaram para Lisboa na quarta-feira. De madrugada, às 3h00, portanto já
quinta-feira, voaram para a Turquia, fazendo duas escalas. Uma vez naquele
país, esperava-os uma viagem de autocarro de quatro horas. Passadas poucas
horas estavam no tapete a competir. Por uma questão de custos, viajaram em cima
da hora e sem oportunidade de descanso”.

Os
atletas conhecem bem esta realidade: “sentimos as diferenças entre nós e
atletas oriundos de país de Leste, por exemplo. Conversámos com muitos deles e
sabemos que há um grande apoio por parte das suas federações. Mesmo nas
escolas, há programas adaptados às exigências dos treinos e das competições”,
desabafam os mais velhos, Vitalie e Luís. Fernando Miranda completa: “há uma
frase que diz que o atleta não se deve preocupar com nada que não seja o treino
e a competição. Mas, neste caso, isso não é verdade. Eles têm de se preocupar
com os seus gastos e pedir aos pais o dinheiro necessário”. O apoio da
Federação seria, portanto, essencial. Mas estamos a falar de uma verba muito
avultada? “Nem por isso. Bastaria uma ajuda aos clubes de €4000,00 por ano e os
atletas poderiam participar em provas internacionais ao longo do ano que lhes
daria muita mais experiência”. O treinador do Bonfim também confessa que foi o
município a pagar as despesas dos atletas no Campeonato da Europa e afirma a
“impossibilidade de participação se não existisse este apoio”.

No
entanto, e mediante as adversidades, os cinco já só pensam na próxima etapa,
Madrid. O Campeonato do Mundo, agendado para novembro, vai acontecer no país
vizinho e a esperança de conquistar uma medalha é grande. Este espírito revela as
características comuns a todos: determinação, coragem e sentido de sacrifício
para representarem a cidade e o país além-fronteiras mas, acima de tudo, para
continuarem a praticar Karaté, algo que lhes dá um prazer maior que qualquer
contrariedade.

Diana Pires
Ina Certan
Ina Certan
Jéssica Almeida
Jéssica Almeida
Luís Almeida
Luís Silva
Vitalie
Vitalie Certan