Póvoa de Varzim, 14.02.2008 - A Neblina do Passado, de Leonardo Padura, e Maurício ou as Eleições Sentimentais, de Eduardo Mendoza, foram apresentados, esta tarde, no Correntes d´Escritas.
Estava programada a apresentação de A Casa do Rio, do escritor angolano Manuel Rui, que foi, no entanto, adiada para o dia de amanhã, à mesma hora.
Leonardo Padura é um escritor cubano, a residir em Cuba, que tem praticamente toda a sua obra traduzida para português e o mesmo se passa com Eduardo Mendoza, escritor espanhol que, desde o final dos anos 70 tem obra publicadas em Portugal.
Se Mendoza vem, pela primeira vez ao Correntes d´Escritas, Padura não é um estreante e, para falar do seu livro, coisa que, segundo ele, é um dos exercícios mais difíceis que existe, começou por afirmar, com piada, que “quando um cubano fala devagar, está a falar português”. E foi neste seu “português” recém-adquirido, que o escritor explicou que A Neblina do Passado é realmente o regresso de Mário Conde, personagem recorrente nos seus romances policiais. Só que este já não é um romance policial. Mário Conde deixou de ser polícia e decidiu abrir um pequeno negócio de compra e venda de livros antigos, o que o vai levar de encontro à literatura cubana do século XIX e, mais concretamente, à descoberta de um livro onde um personagem feminino vai tomar conta do seu imaginário. É esta mulher, cuja história ele tenta seguir, que o vai levar numa viagem pela Havana dos anos 50 e pela Havana contemporânea. As noites da capital cubana, os boleros, a dança, o fascínio de uma época do passado, tudo isso povoa este livro de Leonardo Padura, que, para o romance trouxe ainda o sentimento de derrota e desencanto da sua geração e daqueles que, ainda assim, e tal como ele, decidiram permanecer em Cuba e aí continuar a escrever.
Para falar do seu livro, Eduardo Mendoza decidiu começar pelo título: Maurício ou as Eleições Sentimentais. Um título, segundo ele estranho e que nem ele próprio sabe se entende muito bem. Se a acção se desenrola em Espanha, a Espanha dos anos 80, onde já se consolidou a democracia, a história pode bem situar-se em qualquer outro país, uma vez que o romance lida com, como referiu Mendoza, “a aprendizagem da normalidade”. Essa aprendizagem da passagem à idade adulta, quando morrem os sonhos da adolescência.
Segundo o autor, Maurício ou as Eleições Sentimentais é a história de personagens jovens e das suas escolhas de vida, quando supostamente se tomam decisões, mas, na realidade essas decisões até nem nos pertencem a cem por cento, sendo antes um produto de toda a envolvente social e até familiar. O livro trata, pois, tendo como pano de fundo a Espanha dos anos 80, das transições pessoais e colectivas e a pergunta final é: o que aconteceu às esperanças, aos projectos de vida, aos projectos de mudança da vida de cada um e até do país em que se insere? O que acontece aos sonhos que têm que morrer nessa “aprendizagem da normalidade” que implica a passagem para a vida adulta?
Esta noite, às 22h00, são apresentados, no Novotel Vermar, mais cinco livros: No Último Azul, de Carme Riera; O Anjo Literário, de Eduardo Halfon; O Sorriso da Mona Lisa, de Pedro Teixeira Neves; O Tempo dos Imperadores Estranhos, de Ignacio del Valle; e Um Homem na Cozinha – Seduções e Volúpias, de Luís Machado.