O antigo
chefe do Serviço de Turismo da Câmara Municipal referiu que este período teve
desde sempre na nossa cidade um programa muito rico onde actos religiosos e
profanos se agregam, lembrando que as Solenidades Pascais têm início 40 dias
antes do Domingo de Páscoa, na Quarta-feira de Cinzas, e terminam 40 dias
depois na Quinta-feira da Ascensão, que é celebrada em Argivai com a Festa das
Lestras e Procissão do Senhor dos Milagres.

A partir
da Quarta-feira de Cinzas e até ao meio-dia do Sábado de Aleluia, época
designada de Quaresma, as igrejas adquiriam uma imagem muito singular, “tapavam-se
os altares, retiravam-se as flores e apagavam-se as velas”, revelou Armando
Marques. Outra das tradições religiosas que marcavam o início do tempo Pascal
era a imposição das cinzas e a Procissão dos Entrevados, solenidade dirigida a
“quem estivesse doente ou preso” que tinha “que se desobrigar”, acrescentou.

Serra-essa-Velha foi
outra das manifestações recordadas por Armando Marques que
esteve durante muito tempo adormecida na cidade, tendo sido recuperada pela
JuveNorte há dois anos atrás, para gáudio dos mais idosos que a recordavam com
muito saudosismo. A iniciativa é descrita como um exercício público de crítica,
já que na rua vão sendo ditas rimas de mal dizer, tendo como principal alvo as
mulheres mais velhas.

Os Bailes de
Micareme eram outra das actividades que marcavam o tempo de Quaresma que se
realizavam nos bombeiros da Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Segundo Armando Marques “os
padres nunca gostaram deste baile” dado o seu carácter festivo.

No âmbito das
celebrações da Semana Santa, a
Póvoa de Varzim realizava e continua a realizar três
Procissões dos Passos, sendo que a primeira se realiza em Amorim, segue-se a Póvoa de Varzim e por último em São Pedro de Rates. Em
Amorim, esta procissão decorria no terceiro Domingo da Quaresma e era também
designada por “O Atésa”, sendo sempre marcada por ventos muito fortes que
exigiam muita força por parte dos homens que carregavam os pendões e bandeiras
processionais. No domingo seguinte, a Santa Casa da Misericórdia organiza a
procissão na Póvoa de Varzim e no dia em que a cidade celebra o Domingo de
Ramos, em São Pedro
de Rates sai às ruas a Procissão dos Passos.

Outra tradição
perdida no tempo e abordada por Armando Marques foi a dos Bois da Páscoa. Em tempos
passados, a tarde da Quinta-feira Santa era dedicada a esses animais, gordos e
luzidios, enfeitados com sinos, flores e fitas vermelhas, que percorriam as
povoações limítrofes antes de se dirigirem para a Póvoa. Acompanhados do seu
proprietário e de uma moça vestida com traje minhoto a preceito, aqueles
animais desfilavam pelas ruas da cidade e terminavam frente à Câmara Municipal,
onde um júri apreciava os animais para atribuição de prémios. Esta iniciativa
decorreu pela última vez em Abril de 1974, pois “a partir do 25 de Abril nunca
mais se fez”, informou Armando Marques. A Quinta-feira Santa era também marcada
pela visita às Igrejas, ritual que ainda hoje é cumprido por muitos poveiros
que gostam de apreciar os arranjos das igrejas e capelas feitos com o maior
cuidado, algumas das quais com encenações alusivas à quadra pascal, que ficam
abertas até cerca das 24 horas de quinta-feira para serem visitadas pelos
fiéis.

Na Sexta-feira Santa, destaca-se a Procissão do Enterro
do Senhor que durante muitos anos se realizou à tarde mas há cerca de 30 anos
passou a ser à
noite, contando com a participação das Autoridades Civis e Militares. No Sábado
de Aleluia, durante a manhã, realizava-se a bênção da água e ao meio-dia “caíam
os paramentos negros, os altares eram descobertos e os rapazes iam com
campainhas pelas ruas da cidade anunciar a festividade da ressurreição”.

Outra manifestação
de carácter profano deste período referida por Armando Marques é a Queima
do Judas
, cuja Leitura do Testamento foi retratada, pela primeira vez, por
António Batista e actualmente é recriada pela Juvenorte segundo a qual Judas
entregou Jesus à morte, tornando-se por isso o apóstolo traidor.

O Domingo de Páscoa era
marcado pela ida ao padrinho para buscar a rosca e pela Visita Pascal. Enquanto
a aguardavam, os poveiros jogavam a péla nas ruas, jogo bem conhecido daqueles
que se dedicam ao estudo dos nossos costumes. Como muitos outros esse hábito
foi-se perdendo e hoje dificilmente vemos a prática dessa tradição que também
servia de entretenimento na Segunda-feira de Páscoa, no Anjo.

As solenidades
Pascais são retomadas no primeiro Domingo depois da Páscoa, conhecido por
Domingo de Pascoela, em Argivai, onde se presta homenagem à Nossa Senhora
do Bom Sucesso, à qual se associam momentos
musicais, característicos das romarias portuguesas.

Armando Marques será novamente convidado do Arquivo Municipal para a iniciativa À quarta (h)à conversa,
a 16 de Junho, para falar de outra tradição poveira muito marcante, o São
Pedro.