Póvoa de Varzim, 16.02.2009 - O Correntes d’Escritas, Encontro de Escritores de Expressão Ibérica, terminou no passado sábado.
Os números envolvidos nesta edição reflectem a magnitude do evento, que comemorou dez anos: foram mais de 120 escritores, acima de 30 livros lançados, 25 mesas de debate, três sessões de poesia, três exposições, duas sessões de cinema e ainda um espectáculo de teatro.
O que não se contabiliza são os laços de amizade criados entre escritores, as conversas que rodam à volta da Literatura, a magia emanada por esta grande família, a que se juntam editores e jornalistas, e que acolhem de forma natural o público e com eles partilham o seu espaço. “O balanço mais importante é feito pelo leitor, pelo público que está presente, e de uma forma mais objectiva pelo número de presenças” considera Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, referindo-se à constante lotação dos espaços por onde passava o Correntes. De facto, a adesão do público é um dos aspectos que define o sucesso do Correntes d’Escritas. Para além de terem enchido o Museu Municipal, onde decorreu a primeira mesa de debate, afluíram em massa ao Auditório Municipal, onde tiveram lugar outras nove mesas, acompanharam o lançamento de novos livros quer na Casa da Juventude quer no Novotel Vermar, aplaudiram entusiasticamente as sessões de poesia, folhearam centenas de livros disponíveis na Feira do Livro. Vindos de norte a sul do país, o público do Correntes d’Escritas é um público heterogéneo, com actividades profissionais distintas e idades variadas.
Com um programa a dobrar e igualmente em número de participantes, o Correntes d’Escritas manteve a sua identidade como espaço de afecto e de partilha. Por isso, e no entender do Vereador, o risco de o evento perder o encanto não existe. “O Correntes não cresce em demasia, visto que o seu figurino procura, com a heterogeneidade dos escritores, ser o mais homogéneo possível. É muito compacto, as pessoas estão em contacto, há uma ligação contínua entre todos.”
De entre os momentos do programa, e tratando-se esta de uma edição comemorativa, destaque para a Sessão Oficial de Abertura que decorreu no renovado Museu Municipal. Assim, o programa do Encontro assimilou a reabertura de um dos mais importantes espaços culturais do concelho. E foi lá, na manhã de dia 11, que se ficaram a conhecer os vencedores dos Prémios Literários Casino da Póvoa (atribuído a Gastão Cruz por A Moeda do Tempo), Correntes d’Escritas/Papelaria Locus (atribuído a Tatiana Bessa por geometria das sombras) e Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora (em primeiro lugar ficou o trabalho desenvolvido pelos alunos o 4º ano da Escola Básica nº 1/Jardim-de-Infância de Aires, Palmela, pelo conto Um susto e um presente). Já durante a tarde, o Ministro da Cultura, José Pinto Ribeiro, tomou parte da Sessão de Reabertura do Museu Municipal, sendo depois o centro das atenções ao proferir a Conferência de Abertura.
Reforçando a sua aposta na criação de novos públicos, o Correntes d’Escritas alterou um pouco a dinâmica dos encontros entre escritores e alunos. Assim, nesta décima edição, todas as escolas EB 2/3 e secundárias do concelho receberam mesas de debate. No Diana Bar e na Biblioteca estas decorreram para alunos de estabelecimentos de ensino de fora do concelho e, mantendo um dos sucessos do ano passado, decorreram também mesas de debate para alunos do 4º ano do 1º ciclo do ensino básico, com o tema “A cor das palavras.” Luís Diamantino considera este contacto com as escolas de uma importância vital, que não se desenvolve apenas durante o Encontro, mas também em outras actividades de promoção do livro e da leitura. ”É semear junto dos jovens”, afirma.
A respeito das mesas recorde-se ainda que todas tiveram temas “repescados” de edições anteriores. O certo é que, ao fim de dez anos, a sua subjectividade continua a proporcionar mil e uma leituras por parte dos intervenientes, factor onde reside a riqueza de cada uma das intervenções.
Várias foram as exposições inauguradas no âmbito do Correntes d’Escritas e que podem ser ainda visitadas. “De Caras com a Escrita”, da autoria de Rui Sousa, foi inaugurada no Diana Bar. Reúne fotografias de quase todos os convidados que passaram pelas nove edições anteriores do Correntes, traduzindo-se isto em mais de 300 imagens, a preto e branco. A exposição está patente até 28 de Fevereiro. Já no Museu Municipal, “Circunstâncias”, de Rui Anahory, ilustrou a reabertura do Museu Municipal. Escultura, pintura e fotografia constituem esta exposição, que pode ser visitada até 28 de Abril. Já na Biblioteca, a relação entre o Homem e o livro deu o mote para a exposição “Imago Libri” de Simon Doru Cristea. Esta é uma exposição de fotografia que pode ser visitada até 28 de Fevereiro.
Nesta décima edição do Correntes d’Escritas assistiu-se também ao lançamento do número oito da Revista Correntes d’Escritas, com textos de vários escritores, inteiramente dedicados ao décimo aniversário do evento, ao espectáculo teatral “O Olhar Diagonal das Coisas”, a partir da poesia de Ana Luísa Amaral, e à exibição dos filmes “É dreda ser angolano”, de Fazuma, e “Mal nascida”, de João Canijo. Recordaram-se ainda os amigos do Correntes que, mesmo não estando mais entre nós, continuam a fazer parte do evento e da sua história. Esta Sessão de Homenagem teve lugar no sábado.
Tudo isto acompanhado por uma nova imagem, criado por Henrique Cayatte Design e que honra, através de um código de cores e escrita, todo o ciclo da literatura, da ideia à edição, desde o escritor, passando pela paginação e impressão, até chegar ao público.
O Correntes d’Escritas segue agora para Lisboa, para duas mesas de debate, nos dias 17 e 18 de Fevereiro, respectivamente no Instituto Cervantes e na Casa da América Latina.
Em breve serão divulgados os regulamentos dos Prémios Literários e a data da 11º edição do Correntes d’Escritas. Para já fica a certeza que em Fevereiro de 2010 a Póvoa será, de novo, invadida pela literatura. E, como afirma Luís Diamantino, são de esperar novidades no programa, para além, claro, desta abertura do Correntes d’Escritas a outras artes que não apenas a Literatura. “Vamos manter o nosso ritmo, continuar a percorrer o caminho com passos concretos e os pés bem assentes no chão. Vamos voltar ao perfil do Correntes d’Escritas, com menos escritores mas com mais participação.”
Enquanto esse momento não chega, pode sempre revisitar os momentos da décima edição no portal municipal, assim como edições anteriores.
Correntes d’Escritas é uma organização da Câmara Municipal, com o apoio do Turismo de Portugal. Contou com o patrocínio do Casino da Póvoa, da Norprint, do Novotel Vermar, de Henrique Cayatte Design, da BM Car, do Instituto Cervantes, da Porto Editora, da Papelaria Locus, da Casa da América Latina, do Varazim Teatro e do Cineclube Octopus.