A voz desta grande escritora ecoou pelo Auditório Municipal enquanto na tela se projectavam imagens da mulher que se esforçava “por cumprir como mulher, como mãe, como avó, enfim o que quiserem de mim”. Dizia escrever por impulso e sem nunca se importar com o que os outros pensavam dela. “Um livro é um círculo que se fecha”, ouviu-se ela dizer a certa altura, “sou mais escritora do que qualquer outra coisa”, definiu-se. “Embora o tempo vá passando, uma paixão é eterna, não se compadece com essa insignificância que é a morte”.

Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, explicou que “a organização quis com muito sentimento recordar alguém que passou aqui no Correntes d’Escritas. Infelizmente, já alguns amigos nossos têm partido mas continuam connosco”. Recordou que Rosa Lobato de Faria esteve na Póvoa em Dezembro de 2008, para apresentar As Esquinas do Tempo e falou dos seus projectos para o futuro. “O futuro reserva-nos surpresas que não conseguimos aguentar. Esta foi uma delas. Contou-me o Manuel Rui que quando soube da sua morte chorou muito. Penso que choramos todos, quanto mais não seja por dentro”. “Tenho um qualificativo para ela. Rosa Lobato de Faria era uma grande senhora”.

Manuel Valente, da Porto Editora, editor que Rosa Lobato de Faria sempre acompanhou, leu uma emocionada carta à “Rosinha, como todos te chamávamos”. “Se pensaste que escapavas a esta edição do Correntes d’Escritas enganaste-te redondamente. A gente da Cultura tem memória. E como tem memória não se podia esquecer de ti”. E na Póvoa esteve ela de novo, evocada “para poderes contemplar o azul do mar e falar aos amigos do romance que estavas a escrever”. “Estamos aqui contigo. A noite cai lá fora e como dizia o Nobre as Lanchas dos Poveiros talvez estejam a sair a barra entre ondas e gaivotas. Dizemos-te adeus e como adolescentes tropeçamos de ternura por ti. Esta é do O´Neill, tu sabes. Como falar de ti se não for através da poesia?”

E pela voz de Aurelino Costa, poemas de Rosa Lobato de Faria emocionaram. Foram eles “Quem me quiser” e um outro inédito.

A homenagem deu lugar à entrega de prémios, o último acto desta grande Festa da Literatura que é o Correntes d’Escritas. Recordando que ao longo destes 11 anos mais de três centenas e escritores já passaram pelo Encontro, Luís Diamantino agradeceu a “muita vontade, a muita boa vontade dos participantes e do público, público que não nos faltou”. Os elogios também não, “vieram ter comigo e disseram que isto é único. São pessoas que gostam de livros, que gostam de literatura. Tem sido muito importante contar convosco. Temos pessoas que vieram do Brasil só para assistir ao Correntes, de Braga, de Aveiro, algumas pessoas tiram férias de propósito”. Pessoas raras, “mas precisamos de pessoas assim, que gostem de livros a este ponto”.

Agradeceu aos patrocinadores, o Casino da Póvoa, a Norprint, a BMCar, o Axis Vermar e ao ateliê Henrique Cayatte Design, lembrou os apoios da Porto Editora, da Papelaria Locus, do Instituto Cervantes, da Embaixada do Uruguai e do México, e os parceiros Booktailors, revista LER, Jornal de Letras, Universidade do Porto, Cineclube Octopus e Varazim Teatro. “Nós temos é que acreditar nas coisas que fazemos. E quando acreditamos, temos que escavar. Temos que procurar e temos que conseguir. E conseguimos, claro, graças a todas as estas entidades que nos ajudaram”.

Paulo Gonçalves, da Porto Editora, entregou o Prémio Conto Infantil Ilustrado Correntes d’Escritas/Porto Editora, instituído com o objectivo de, explicou, “incentivar os alunos a partilharem o gosto por contar histórias”. Alunos e professora do 4ª ano do jardim-escola João de Deus subiram a palco para receber o 1ª prémio por A Casa Misteriosa, no valor de mil euros. Este galardão premiou ainda, com o 2º lugar e €500, os alunos do 4º B da EB 1 de Ferreiros, Baguim do Monte, com Contou-me o meu avô, e ainda os alunos do 4º ano, TO2 da EB1 Monte, de Touguinhó, que com João Ratinho à procura de casa alcançaram o 3º lugar e um prémio de €250. Foram ainda atribuídas menções honrosas aos alunos do 4º ano da Secção Portuguesa da Escola Europeia do Luxemburgo, exclusivamente pela ilustração de Miguelras em busca de amigos, e aos alunos do 4º ano AL4, da EB1 / JI de Arcozelo, Santo Tirso, exclusivamente pelo texto de Um anjo diferente. Todos estes trabalhos vão ser editados em livro pela Porto Editora.

Depois, Alfredo Costa, da Papelaria Locus, entregou a Miguel Rocha de Pinho o Prémio Literário Correntes d’Escritas/Papelaria Locus, no valor de mil euros. O jovem, de 18 anos, confessou que se sentiu surpreendido com o impacto que o seu conto, “A História do Velho Entristecido com a Vida” causou no júri. “É um texto que questiona e faz questionar”, explicou. Com o seu texto, que conta a história de um velho que não fez nada para aproveitar a vida. “É necessário trabalho, iniciativa, para as coisas acontecerem”, defendeu.

Por último, foi entregue o Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros, atribuído a Maria Velho da Costa, por Myra. A escritora não pode estar presente, devido ao mau tempo que impediu a circulação de comboios entre Lisboa e Porto. Em seu nome, António Costa da Assírio & Alvim recebeu o prémio, simbolizado numa Lancha Poveira que, explicou Luís Diamantino, é o símbolo da coragem dos pescadores poveiros, que remete, por isso, “para a coragem dos escritores de lutar através da escrita”. “Ela ficou surpreendida quando soube”, disse o editor. “As outras obras a concurso eram boas e quando se ganha um prémio concorrendo com obras de grande qualidade tanto mais relevo esse prémio tem”.

O Correntes d’Escritas segue agora para Lisboa, onde a 1 de Março, decorre uma 10ª mesa de debate, no Instituto Cervantes. Revisite o evento no portal municipal.