Póvoa de Varzim, 24.02.2011 - Foram inauguradas, ao final do dia de ontem, duas exposições no âmbito do 12º Correntes d’Escritas.
“Poesia Experimental Portuguesa” da Colecção da Fundação de Serralves, comissariada por João Fernandes, director do Museu de Serralves, foi uma das exposições aberta ao público e que estará patente na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim até 16 de Abril.
Esta reúne e apresenta obras e edições paradigmáticas desta intervenção experimental, realizadas entre a década de 60 e a década de 80, abrangendo assim um período compreendido entre 1964, data da edição do primeiro número dos “Cadernos de Poesia Experimental”, e 1984, data da recolha dos materiais presentes em “Poemografias”, o último livro e exposição que reúnem nomes históricos do experimentalismo com alguns dos seus mais recentes continuadores. São apresentadas nesta exposição obras de Ana Hatherly, António Aragão, António Barros, Ernesto de Melo e Castro, Fernando Aguiar, Salette Tavares, os nomes mais representativos do Experimentalismo português ao longo deste período.
A relação entre arte e linguagem tem sido, ao longo do século XX, um dos mais profícuos contextos para a superação dos limites a que uma história dos géneros artísticos parecia ter confinado a arte ocidental. Se, por um lado, muitos poetas espacializaram os seus textos, explorando as possibilidades gráficas que a escrita lhes proporcionava, por outro, inúmeros artistas visuais partiram da palavra e do texto para a abolição das fronteiras que isolavam a arte da experiência da vida quotidiana e acondicionavam uma discussão e um conhecimento sem limites da natureza do processo artístico.
Arte e poesia cruzam-se deste modo numa experimentação recíproca das possibilidades que a transgressão das suas gramáticas específicas lhe proporciona. Se, desde Mallarmé, o Livro surge como uma configuração do mundo, muitas das suas “páginas” têm sido criadas por uma história que remonta às primeiras experiências futuristas, construtivistas e dadaistas e se prolonga até à arte conceptual dos últimos trinta anos. Enquanto os poetas objectualizaram a palavra, os artistas usaram por sua vez a palavra para redefinir a condição do objecto de arte. Em Portugal, depois das experiências modernistas de Mário de Sá Carneiro e de Ângelo de Lima, assim como de novos conceitos de texto explorados por poetas como Mário Cesariny, Jaime Salazar Sampaio e Alexandre O’Neill, alguns poetas começam, a partir de finais da década de 50, a explorar as possibilidades visuais dos seus textos. A partir de 1964, ano em que é editado o primeiro número dos “Cadernos de Poesia Experimental”, multiplicam-se as edições e organizam-se eventos performativos e exposições que revelam, não só uma referência explícita a reminiscências futuristas e dadaístas, como ainda o conhecimento das experiências da Poesia Concreta brasileira, protagonizada nomeadamente por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.
Referenciada como concreta, visual e espacial noutros lugares, esta poesia vai em Portugal autonomear-se como experimental, manifestando assim uma relação com a análise científica do texto e da linguagem, assim como a manifestação do desejo de uma liberdade de experimentação que em Portugal se encontrava condicionada pelas regras de censura e da repressão política. Nos seus eventos, exposições, objectos e edições, os poetas experimentais surgem em Portugal como precursores das linguagens conceptuais e da arte processual, usando materiais pobres redefinindo o objecto de arte e insistindo na revelação do próprio fazer inerente à criação artística.
Vanguardistas em relação ao contexto literário e artístico português, sofrerão por outro lado uma marginalização consequente da radicalidade de muitas rupturas em relação a estes dois campos. Nos dias de hoje, a Poesia Experimental Portuguesa é uma desconhecida de grande parte dos públicos literários e artísticos portugueses, apesar de representar um daqueles raros momentos em que, no século XX, um conjunto de criadores foi em Portugal completamente contemporâneo do seu tempo, participando assiduamente em todas as exposições e publicações internacionais mais significativas neste contexto.
O Museu Municipal inaugurou a Exposição “Rostos e Pessoas” – obras de Hélder de Carvalho que poderá ser visitada até ao dia 3 de Abril.
O Professor de Artes Visuais traz à Póvoa de Varzim trabalhos de pintura e escultura de várias figuras do universo cultural e artístico. Estarão representadas personalidades como: José Saramago, Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Rocha Peixoto, Miguel Torga, Vitorino Nemésio, David Mourão-Ferreira, Eduardo Lourenço, Herberto Hélder, Sophia de Mello Breyner, Natália Correia, Agustina Bessa-Luís, Manuel de Oliveira, Júlio Pomar, Siza Vieira e Guilhermina Suggia, entre outros.
A exposição conta ainda com um catálogo patrocinado pelo Casino da Póvoa.
Hélder José Teixeira de Carvalho nasceu em 1954, em Carrazeda de Ansiães, Trás-os-Montes. Formou-se 1978 em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes do Porto. Iniciou a sua actividade de Escultor participando, a partir daí, em diversas exposições individuais e colectivas. Entre 1978 e 2000, paralelamente à escultura, foi professor de Artes Visuais. Em 2005, conclui o Mestrado em “Art Craft and Design”, pela Universidade do Surrey Roehempton – Londres. Está representado em distintas instituições públicas e privadas e possui diversificadas obras de escultura em espaços públicos. Na nossa cidade, é autor da escultura de Rocha Peixoto, executado no âmbito das Comemorações do Centenário da morte do ilustre poveiro e colocada nos jardins da Biblioteca Municipal.