As aves não têm céu retrata a história de um homem ensombrado por um trágico acidente de viagem, do qual resulta a morte da sua filha. Perseguido pela culpa, o protagonista entra numa “espiral de luto e raiva”, que termina numa “insónia interminável”. As urgências de um hospital rapidamente se transformam no “lugar ideal para atravessar a noite, confortavelmente ignorado, mas não tão só”.

Ricardo Fonseca Mota explicou que as personagens do livro “movimentam-se entre zonas de transição”, uma reflexão que tem origem na sua própria “inquietação relativamente ao mundo tendencialmente fraturado em que nos encontramos”, cheio de muros e binómios, que exige ao individuo a “escolha constante de um lado”.

Igualmente pesarosa com os “tempos de ódio, injustiça, hipocrisia e corrupção em que vivemos”, Rosa Montero encontra paralelismos entre a nossa realidade e a obra ficcionada de Os Tempos do Ódio, que aborda “a obsessão pela morte e o amor pela vida”, temas de fascínio para a autora, que se caracterizou como “profundamente existencialista”.

Preocupada com o fantasma da ditadura a pairar novamente sobre as sociedades ocidentais, Rosa Montero alertou para o risco de “perdermos direitos duramente conquistados, ao longo de vários séculos”, se ficarmos parados perante a injustiça.

“Cabe ao ser humano escolher entre ser anjo ou monstro, pois tem a capacidade de ser ambos”, concluiu a autora, ilustrando com uma pequena história sobre presos políticos na ditadura franquista: “a cada um era atribuído um número pelos guardas. Depois de alinhados, eram forçados a dizer o primeiro número que lhes viesse à cabeça. O pobre contemplado era fuzilado. Muitos escolhiam o próprio número, sabendo que iriam morrer, para poupar a morte aos colegas”.

Harmonia, “um livro provocador, radical, ecológico e em contacto com a natureza”, foi a última obra a ser apresentada. Antonio Colinas explicou que este seu mais recente trabalho, “de aforismos e pensamentos”, reflete o escritor que sempre quis ser.

Para o poeta, romancista e ensaísta espanhol, a palavra que dá o título ao seu novo livro representa um “estado de lucidez, serenidade, silêncio e contemplação”, algo que só pode ser alcançado “depois de ultrapassada a tormenta da dificuldade”.

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