Luís Diamantino,
Vereador do Pelouro da Cultura, explicou que o livro versa sobre o fluxo
emigratório da comunidade poveira em 1896 para o Brasil. “Em 1892 deu-se uma
grande tragédia no mar, em que morreram 105 pescadores. Tal levou a que a vida
se dificultasse para a comunidade, a que se juntava a falta de segurança no
Porto de Pesca da Póvoa de Varzim. Para além disso, os pescadores tinham barcos
muito frágeis e sofriam com a concorrência dos barcos mais modernos, a vapor”.

Tendo em conta que
este foi o segundo de três livros lançados na Póvoa de Varzim em dois dias
(sexta-feira e sábado),
o Vereador considerou que “nunca se editou tanto, nunca se escreveu tanto e
nunca se leu tanto”. Foi por isso com grande satisfação que participou no
lançamento de Comunidade Piscatória
Poveira
, “um livro que tem a ver connosco, com a nossa comunidade,
sobretudo sobre aquilo que é o nosso poveirismo – a nossa comunidade
piscatória”. E apesar de Nuno
Freitas ter estudado apenas o ano 1896, Luís Diamantino
defendeu que este é “um ponto de partida para aquilo que ainda podemos fazer”.

O autor, madeirense,
não pode estar presente no lançamento do livro, mas chegou ao Diana Bar através
das novas tecnologias. Assim, e via DVD, explicou que a investigação retratou a
comunidade em finais do século XIX. “O início do século foi próspero, tendo o
fim do século ficado marcado pela pobreza”, facto que levou a um grande fluxo
emigratório, empolgando, também, pela associação ao “mito do enriquecimento
fácil” no Brasil.

Entre as conclusões
da investigação, apoiada por documentos guardados no Arquivo Municipal e na Biblioteca
Municipal e ainda pelos periódicos da época, Nuno Freitas concluiu que
emigravam maioritariamente homens adultos, com idades entre os 30 e os 44 anos,
sendo que a emigração masculina era superior à feminina. O autor aponta ainda
as várias causas que levaram à emigração, a profissão de quem emigrava, o
destino, de que rua eram originários, entre outros tantos elementos.

Inês Amorim,
professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ela própria uma
apaixonada pelas pesquisas na área de História das Pescas, acompanhou todo este
trabalho de investigação. Por isso, na sessão, apresentou alguns factos sobre o
pescador poveiro, caracterizado pela sua “habilidade”, “pelo conhecimento que
tinha do mar e pela sua capacidade de adaptação aos diferentes mares”. Assim, o
pescador poveiro tinha uma “polivalência de facetas” que o distinguia dos
demais. “Ao longo do ano é sempre pescador, quando emigra, emigra para pescar.
E por isso tem um perfil diferente”.

Comunidade Piscatória Poveira provou também que,
na sua emigração para o Brasil,
o pescador poveiro escolhia como destino o Rio de Janeiro. Mas tal como
sublinhou Inês Amorim, “o Rio de Janeiro é um destino primeiro, um plataforma
que depois pode levar a outras localizações”.

Mas acima de tudo, a
professora considera que este trabalho “dá voz aos pescadores, eles não sabiam
ler ou escrever. Eram os outros que falavam por eles”. Trata-se, assim, de
preservar uma cultura que ainda tem muito para dar a conhecer, como evidenciou
Inês Amorim. “Nem o Nuno nem a Patrícia são da Póvoa, tiveram de entrar na
comunidade. Isso significa que a comunidade teve algo para lhes dizer”, sublinhando
ainda que esta é “uma comunidade que está em extinção, é pequena mas muito
activa. Há aqui uma cultura que tem que se salvaguardar”.

E dando mostras da
preocupação da autarquia poveira pela preservação do seu património, Luís
Diamantino avançou que Luís
Martins, antropólogo e autor de Mares Poveiros, tem vindo a desenvolver um trabalho de recolha
junto da comunidade, em filme, “uma comunidade com tradições e memórias que
mais nenhuma tem”. Para além disso, a própria Câmara Municipal tem apoiado o
trabalho de inúmeras pessoas que se dedicam a estudar a comunidade piscatória,
tendo mesmo, em dois ou três anos, lançado mais de dez livros, em edições
municipais, relativos à pesca, de vários autores diferentes. Conheça os
títulos, disponíveis na Biblioteca, no Diana Bar, no Museu e em outros serviços
municipais, no site da Biblioteca
Municipal
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