Acompanhados dos seus editores, Milton Assi Hatoum, António Tavares, Manuel Vilas e Onésimo Teotónio de Almeida falaram dos seus livros e das histórias que criaram parra o público.

O brasileiro Milton Hatoum trouxe ao Correntes “A noite da espera” (Companhia das Letras).

Milton Assi Hatoum nasceu em Manaus em 1952, é escritor, tradutor e professor. Hatoum é considerado um dos grandes escritores vivos do Brasil.

Para além de ter sido um dos dez livros finalistas do Prémio Oceanos de literatura, “A noite da espera” venceu o Prémio Juca Pato, atribuído anualmente pela União Brasileira de Escritores, e recebeu elogios da crítica, que considerou este um “romance potente, que remexe a história política dos anos sinistros da ditadura, ao mesmo tempo que vasculha infernos íntimos de uma história de família”.

“A noite da espera” é o primeiro volume de uma trilogia intitulada “O lugar mais sombrio”, e retrata a formação sentimental, política e cultural de um grupo de jovens na Brasília dos anos de 1960 e 1970.

O autor garantiu que foi uma coincidência o lançamento do livro em 2017, no Brasil, com a iminente eleição de Bolsonaro e o paralelismo que o novo governo veio trazer com a ditadura brasileira. O grande drama deste jovem personagem do seu livro é encontrar a mãe. “Pensei este livro em 2007 ou 2008, não poderia imaginar o que iria suceder 10 anos depois”.

No segundo volume, está já anunciado pelo autor referências à Póvoa de Varzim, uma vez que a namorada da personagem é da Póvoa. No fundo, um paralelismo com a sua própria experiência. O autor confessou que a sua primeira namorada era emigrante, “filha da Póvoa”, algo normal em Manaus, onde tinha muitos vizinhos da Póvoa de Varzim. “Já conhecia no mapa a cidade, por causa da minha primeira namorada”.

“Correntes D’Escritas & Correntes Descritas” de Onésimo Teotónio Almeida (Opera Omnia) reúne quase todas as intervenções do autor no encontro de escritores ibero-americano e lusófono desde 2000. Onésimo é açoriano, formado em Filosofia, é catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade de Brown (EUA).

Na segunda parte, o autor reúne textos dispersos – sobretudo crónicas – que têm como tema as Correntes, em muitas delas relatando estórias reais ocorridas durante aqueles animados dias.

Na sessão, Onésimo voltou a contar histórias, divertidas, recordando os primeiros encontros, vividos de forma muito intensa e com muita proximidade e cumplicidade entre as poucas dezenas de escritores, que nessa época se reuniam. As pequenas histórias que relatou na sessão tiveram como foco João Ubaldo Ribeiro, um escritor brasileiro muito peculiar.

“Em tudo havia beleza (Ordesa)” de Manuel Vilas (Alfaguara) foi o romance literário que mais surpreendeu os leitores e os críticos espanhóis em 2018, eleito Melhor Livro do Ano pelos jornais El País e El Mundo.

Manuel Vilas é um premiado poeta e narrador espanhol nascido na Galiza. Além de escritor é jornalista, colaborando com “El País”.

Deixa-nos nesta obra uma dor comum a todos os mortais, a morte dos pais, afinal, “todos somos filhos”. Resolveu escrever o livro como forma de ultrapassar o luto, conseguindo ver que “em tudo havia beleza”. Vilas afirmou que o maior elogia literário que lhe têm feito os leitores espanhóis é quando lhe dizem – “depois de ler o seu livro, quando a minha mãe me telefona, eu atendo o telefone” …

“Homens de pó” de António Tavares (Dom Quixote) relata histórias de portugueses no Verão Quente de 1975. Um punhado de homens vindos de África busca a sua identidade num Portugal em convulsão.

Discreta e irónica, a narrativa interroga o leitor sobre os limites da utopia e da realidade, e a importância da palavra e do sonho na construção das nossas vidas. “Eles não eram retornados, intitulavam-se recuados”, afirmou o autor, que refere que essas pessoas “tinham uma forma muito africana de ver a realidade, foi alguma dessa ironia que procurei passar para o texto”.

A sala Poesia voltou a encher-se às 21h30 para a sessão Correntes Ícone – EC.ON Escola de  Escritas. Participaram José Rui Teixeira e João Bernardo Soares, ambos naturais do Porto.

João Bernardo Soares é escritor e ensaísta autodidata. Tem-se dedicado à pesquisa em torno da crítica ao capitalismo, teoria do Estado, exploração do trabalho, métodos de organização do trabalho e história do movimento operário.

José Rui Teixeira nasceu no ano da revolução dos cravos (1974). É diretor e presidente do Conselho Científico da Cátedra Poesia e Transcendência [Sophia de Mello Breyner Andresen], na Universidade Católica Portuguesa [Porto].

Os escritores demonstraram uma das sessões formativas promovidas habitualmente pela Escola de Escrita com sede em Évora. A maioria da oferta é online (perto de noventa cursos ministrados por mais de vinte escritores), mas desenvolve igualmente sessões presenciais, de que são exemplo os “Cursos Ícone” (aos sábados, desde Janeiro de 2014, um escritor apresenta-se na sede da escola para falar sobre os seus processos de criação literária).

A partir das 22h00, aconteceu nas Galerias Euracini um Espetáculo de Poesia e Música. Protagonistas: Detéxtones de Xabier Xil Xardón coa música de Leo i Arremecaghoná.

Xabier Xil Xardón é um poeta galego, nascido em 1983. Leo i Arremecaghoná é o nome do projeto musical de cantor e compósito de Leonardo Fernandez Campos, nascido em Matamá, Vigo, em 1974. É versátil, filólogo e poeta.

Pouco antes das 24h00, em direto do Cine-Teatro Garrett, e com casa cheia, aconteceu a emissão do Programa Governo Sombra, da TVI24, com João Miguel Tavares, Pedro Mexia e Ricardo Araújo Pereira, moderados por Carlos Vaz Marques.

Um governo que não decide. Uma equipa ministerial sem consenso. Um conselho de ministros que convive bem com as fugas de informação.

Passaram a atualidade em revista, examinaram à lupa os dossiês, interpelando os protagonistas sem rodeios.

Acompanhe o 20º Correntes d’Escritas no portal municipal e no facebook Correntes. Consulte o programa completo do evento e fique a par de todas as novidades.