Os dois poetas recordaram a infância e os familiares que mais os marcaram, o que despoletou lágrimas, sorrisos e histórias que tocaram o jovem público. Ivo Machado contou que enquanto crescia a avó lhe dizia que “quando deixasse de ler é porque a morte estaria próxima.” O escritor explicou que “há dez anos, fui aos Açores visitar a minha avó. Ela estava sentada a olhar para a televisão apagada. Eu perguntei-lhe o que ela estava a ler e ela respondeu-me que já há uns dias que não lhe apetecia ler nada. Estranhei. Passado dois meses faleceu.” A emoção de Ivo Machado ao partilhar esta história foi notória e o poeta não conseguiu conter as lágrimas.

O escritor açoriano recordou ainda outra história. No dia em que nasceu, o irmão do seu pai emigrou para o Brasil. Ao longo da sua infância perguntava imensas vezes ao pai onde estava o tio, onde era o Brasil. A resposta era sempre a mesma: “fica naquela direcção”, apontando para o mar. Vivendo numa ilha, olhava para o mar e sonhava com as possibilidades que me esperavam quando o atravessasse. Há cinco anos visitei pela primeira vez o Rio de Janeiro. Há minha espera estava o meu tio. Fomos passear e, ao tirar uma fotografia junto à estátua de Carlos Drummond de Andrade, reparei na frase “no mar estava escrito uma cidade. Poucos dias depois estava aqui, no Correntes d’Escritas, e participei numa mesa cujo título era “no mar estava escrito uma cidade.”

Ivo Machado disse ainda que o primeiro poema que ouviu foi a mãe segredar-lhe ao ouvido “meu filho, eu amo-te!”

Conceição Lima, oriunda de São Tomé e Príncipe, recordou o pai, a pessoa que lhe mostrou o poder das palavras. “Quando eu era pequena o meu pai compunha músicas para a minha mãe quando ela se zangava com ele. Eu via que as palavras tinham o poder de trazer a paz, porque ela fazia as pazes com ele. No entanto, também me mostrou que as palavras ferem, pois para ela estar zangada é porque antes o meu pai a tinha magoado com palavras.” Conceição Lima contou que durante a infância o pai lhe dizia que ela iria ser poeta quando crescesse porque “estava sempre a olhar para as nuvens, mas não via nuvens, via mãos, pássaros, cavalos, flores. As nuvens eram uma tela imensa onde os meus olhos desenhavam coisas.”

Após esta sessão comovente e intimista, Ivo Machado e Conceição Lima brincaram: “no início dissemos que era uma emoção para nós visitarmos escolas. Não acreditaram, aposto. Pois ficou aqui provado que não estávamos a mentir.”