Na conferência foi apresentado e analisado o quadro que é considerado uma das mais belas pinturas portuguesas e em que a Póvoa de Varzim é retratada. Neste esboço sentimos a mão do mestre, as hesitações do momento, os apontamentos para a obra final. Nascido no Porto (1853), Marques de Oliveira estudou em Paris, ao lado de Silva Porto, viajou pelos Países Baixos, Londres, Itália e, foi, depois, Professor de Belas Artes (1881 – 1926). Ao longo de toda a sua vida moveu-se nesta corrente da pintura e muitas das suas obras e estudos para as mesmas estão patentes nos melhores museus nacionais. Curiosamente, um número significativo dos seus quadros ilustra cenas da vida poveira, em particular a ambiência da Praia do Peixe e da faina dos pescadores, mas também a vertente dos banhistas e da Paia de Banhos. São retratos únicos da vida de uma comunidade em mudança, empobrecida e sofrida, mas bela e colorida, que se deixa capturar na mestria do traço do pintor.

Nos seus trabalhos vemos as longas perspetivas das praias batidas pelo vento e pelas ondas, onde sargaceiras recolhem as algas, as mulheres esperam pelos barcos, as crianças brincam. Revelam-se-nos as miseráveis casas térreas, feitas de toscas madeiras e pedra, em que os pescadores habitam e onde secam aprestos e se reparam as redes. Com o mesmo olhar – algo distante, e como se a sua presença nada mudasse – mostra-nos os barcos varados na areia enquanto aguardam para serem lançados ao mar, ignorando os perigos ocultos que os esperam. Retrata-se, igualmente, a extensa praia de banhos poveira com os banhistas que a enchem e que aí se divertem, as famílias dispersas entre as barracas, percebendo-se as modas do momento e os requintes próprios dessa forma de estar. Reconhecemos os espaços, identificamos os personagens e assalta-nos um estranho pensamento de que somos arrastados para dentro do quadro e que passamos a fazer parte dele.