A Fundação Dr. Luís Rainha foi constituída em Março de 2007, na Rua da Alegria, 10, na Póvoa de Varzim, apresentando como objeto apoiar financeiramente duas instituições locais de caráter assistencial (Lar de idosos da Santa Casa e MAPADI) e promover atividades no domínio educativo e cultural. Neste âmbito, os responsáveis da instituição resolveram criar o Prémio Literário como forma de promover a Fundação Dr. Luís Rainha e de apoiar a criação literária, que enaltece a Póvoa de Varzim.

O Céu do Mar, de João Morgado, foi o vencedor do Prémio da edição de 2015 e foi apresentado na própria Fundação e contou com a presença do Vice-Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Luís Diamantino.

João Morgado nasceu em 1965, em Aldeia do Carvalho, na Covilhã. Trabalhou como jornalista e, para além da imprensa regional, escreveu no “Público” e no Semanário “Sol”. Consultor de comunicação nos meios empresariais e políticos é, atualmente, chefe de Gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Belmonte.

Na literatura, afirmou-se com dois romances: Diário dos Infiéis, 2010, e Diário dos Imperfeitos, 2012. Estas duas obras foram adaptadas ao teatro pela ASTA – Associação de Teatro e outras Artes.

Fique com um excerto do livro: “Mãe, quero ir para o mar…», dizia ele de pele morena e jeito vivaço. «O mar ainda não cabe nos olhos de Deus, por isso deixa-te estar… envelhece».

O catraio baixa os olhos com tristeza, mas ainda pergunta: «Com que idade o pai foi para o mar?». Carminda mostra-se inquieta e irritada. Não me lembra. «Mas sei a idade que tinha quando o mar foi para dentro dele e não o deixou regressar… não me peças para partir se não podes assegurar que voltas.»

Pedro sentia-se imortal como todos os jovens, por isso garantia à mãe que voltaria, que voltaria sempre. Mas as viúvas são duras de ouvido, não ouvem o que lhes lembra a morte – por isso fez orelhas moucas às súplicas do filho. «O mar é traiçoeiro, não o quero dentro de ti».

Pedro ainda argumenta como pode, mas ela não o ouve. As suas palavras eram como o rumorejar das ondas – vêm e vão, depois perdem-se na maré baixa.

«Lembra-te, do mar não vem só peixe. Também chegam tábuas e mortos», diz ela, enquanto mexe a sopa de cação que está ao lume. «Do mar não vem só peixe, do mar não vem só peixe…» repete a mulher que tem uma cadeira vazia ao seu lado…”