O mais recente trabalho do jornalista poveiro, Patrão Lagoa – O sonho de ser cabo-do-mar, foi apresentado sob o olhar atento de dezenas de pessoas que, ao mesmo tempo, não quiseram deixar de, com a sua presença, homenagear também o herói poveiro.

A noite começou com a voz de Aurelino Costa, que interpretou dois poemas, acompanhado pelo violino de Tiago Pereira e a guitarra de Carlos Costa. E foi com o texto de António Nobre “Georges! Anda ver o meu país de marinheiros” que se arrancou para uma viagem no tempo dirigida por José de Azevedo, “uma pessoa muito próxima dos homens do mar e que conheceu intrinsecamente estas pessoas e as suas famílias”, como referiu Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura. Na opinião do autarca, “José de Azevedo é alguém que gosta de contar histórias e, felizmente, tem passado essas histórias para o papel. Escreve de uma forma muito simples e directa e consegue prender-nos do início ao fim”. Neste livro em particular, continuou Luís Diamantino, “vai pincelando com outras figuras da Póvoa, como o Cego do Maio e o Patrão Sérgio”.

O autor, por fim, lembrou que naquele dia, 21 de Outubro, há 100 anos, o navio de guerra São Rafael havia naufragado junto à Senhora da Guia, em Vila do Conde. “Para assinalar oficialmente o naufrágio do São Rafael, a Câmara Municipal convidou-me a editar este trabalho sobre o Patrão Lagoa, que escrevi no âmbito do concurso Prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha/Correntes d’Escritas sob o pseudónimo João Semana”. E porquê João Semana? O autor desvenda: “Não porque tivesse alguma ligação com medicina, mas sim porque o trabalho me demorou oito dias a escrevê-lo, numa investigação só possível por trabalhar na Capitania. Folheando o livro de correspondência do início da República descobri uma pequena nuvem no passado glorioso do patrão do salva-vidas que pensei desde logo publicá-la contribuindo dessa maneira para uma possível biografia do heróico pescador”. Esta é, então, uma forma da autarquia homenagear o heróico pescador poveiro, bem como assinalar uma tragédia marítima de grande repercussão para a época. Recorde-se que, por impossibilidade do salva-vidas poveiro sair a barra, houve necessidade de o transportar para Vila do Conde sobre duas vagonetas da linha dos americanos.

José de Azevedo explica que “este é um trabalho de jornalista e não de historiador, onde se utiliza uma linguagem simples e descritiva, focalizando expressamente um período marcante na sua vida profissional”. E ainda acrescenta: “Quem escreve, quando publica um livro, costuma dizer que lhe nasceu um filho. Neste caso, e pela estrutura que apresenta, posso dizer que me nasceu um neto. Um neto magro de carnes. Neste caso, de folhas. E magro de folhas porque retrata um período curto da vida profissional do Patrão Lagoa e especificamente focalizado no seu desejo de prestigiar a Marinha envergando uma farda que para si era muito querida: a farda azul de cabo-de-mar, nesse tempo um cargo de grande aceitação no universo piscatório. Na primeira metade do século passado o cabo-de-mar era uma autoridade a merecer respeito e obediência pela comunidade, um porta-voz do Capitão do porto. No entanto, nunca chegou a sê-lo.

Uma das questões que mais curiosidade suscitou entre os presentes foi o número de filhos que Patrão Lagoa teria tido. “Há muitas dúvidas sobre o número de filhos. Umas vezes escreve-se 22 e outras 19. Informando-me junto de netos e outros familiares não cheguei a uma conclusão: uns familiares diziam ter tido 19 filhos, outros 22 e outros ainda 24”.

E foi com estas e outras histórias salgadas que se viveu a noite de sexta-feira, na companhia de José de Azevedo num espaço antigo, mas novo nestas andanças.