Esta iniciativa, que teve como convidado Ricardo Silva, da Mercearia Raúl & Costa, contou com a presença de Luís Diamantino, Vereador dos Pelouros da Educação e Cultura da Câmara Municipal.

Artes & Ofícios é uma atividade que tem por objetivo colocar as crianças e os jovens em contacto direto com vários profissionais, de modo a conhecerem melhor as profissões de ontem e de hoje. Neste sentido, o encontro com Ricardo Silva permitiu que os mais novos tivessem a perceção do que é uma mercearia e de como eram vendidos os produtos nestes estabelecimentos antigamente.

O merceeiro levou muitos produtos artesanais, como barra de sabão, bolachas, azeite, arroz e utensílios antigos, como a balança para pesar a mercadoria, e explicou que antigamente era tudo vendido a peso e não embalado como atualmente acontece.

O proprietário da Mercearia Raúl & Costa revelou que “gerir uma mercearia numa cidade como a Póvoa é uma delícia. O carinho e a proximidade são genuínos e mútuos. As pessoas gostam de ser bem atendidas, nós gostamos de atender bem, não há aqui ratios de serviço, nem objetivos megalómanos de lucro. Gerir a mercearia é gerir a longo prazo, um capital de clientes satisfeitos”.

Quanto à sua clientela, divulgou que “a Póvoa é uma cidade que vem à mercearia, às vezes até para recordar bons momentos da infância. Tenho ainda clientes de todo o lado: Guimarães, Famalicão, com o Metro muitos vêm do Porto, tenho até clientes que atracam os Barcos na Marina e vêm aqui buscar provisões. Surgem também muitos estrangeiros hospedados nos Hotéis da Póvoa. Temos ainda clientes do ROL, aqueles que semanalmente ou mensalmente entregam a lista de compras. Alguns são clientes desde a fundação em 1930”.

Sobre a atitude dos jovens em relação ao comércio tradicional, afirmou que “os jovens ainda olham para o comércio tradicional, até porque há uma corrente revivalista muito forte. O problema maior para os jovens e para os menos jovens é a falta de tempo. Nos últimos 30 anos ganhamos imenso em tudo, menos em tempo. O país cresceu financeiramente, o consumo aumentou e diversificou em coisas e serviços impensáveis para os nossos pais. No entanto, tudo se tornou efémero, até porque não temos tempo para verdadeiramente gozar aquilo que temos. A próxima geração vai com certeza a dada altura se aperceber disso”.

E sobre o futuro da mercearia, Ricardo Silva partilhou que “para 2013 gostava muito, se essa tão cara mercadoria que é o tempo me permitir, de fazer uma coleta de estórias sobre a mercearia. Falar com as pessoas: os antigos sócios, antigos clientes, vizinhos, entre outros”.

Artigo publicado na Visão sobre o estabelecimento poveiro:

“Ao entrarmos na Mercearia Raúl & Costa, na Póvoa de Varzim, sentimos uma mistura de cheiros inconfundível, para nos embriagarmos em nostalgias. É um museu vivo de uma venda antiga, com armários atafulhados de produtos que nos habituámos a ver na casa dos nossos avós. Muito longe da imagem cuidada das lojas gourmet, mas com uma autenticidade e uma afetividade incomparáveis.

Há dois anos, Ricardo Silva quis pegar no negócio e dar-lhe a volta. O espaço, nas mãos da família há um quarto de século, tinha sido utilizado pelo pai como armazém e havia que recuperar a traça de antigamente, exibindo orgulhosamente as máquinas e as caixas de latão que foram ficando.

A fidelidade dos clientes, ao longo dos 80 anos de casa, é comprovada em poucos minutos. A senhora que entra para comprar a sua dose diária de cevada, moída na hora. O senhor à procura do sabonete de seda aconselhado pelo dermatologista. “Queremos ser uma alternativa às grandes superfícies e ter produtos que desapareceram das suas prateleiras há muito tempo”, diz Ricardo.

Distinguem-se também pela venda avulsa de muitos produtos, como especiaria frescas e frutos secos. E pela venda personalizada, fazendo encomendas para corresponder ao gosto de clientes contados a dedo.

Recentemente, criaram uma marca de conservas, a Cego do Maio – em homenagem ao heroico pescador poveiro -, com design atual e sabores de sempre, produzidos pela fábrica A Poveira, a única indústria conserveira que resistiu na terra. Na calha, está o desenvolvimento de receitas próprias de conservas.” (In: Visão, n.º 1022 (4 a 10 outubro 2012). Suplemento Visão Sete.)