Francisco José Viegas foi o moderador.

Aldina Duarte afirmou ter fascínio pelas Correntes d’Escritas desde que se tornou amiga de Maria do Rosário Pedreira, autora de muitos dos fados que interpreta. “Estreei-me neste festival literário a cantar (na passada terça-feira, acompanhada à guitarra por Paulo Parreira e à viola por Rogério Ferreira), aquilo que sei fazer melhor”. A fadista sublinhou que a sua intervenção nas Correntes d’Escritas pretende mostrar a sua gratidão a quem escreve: “não poderia ter esta profissão sem os poetas”.

Tornar-se cada vez uma melhor pessoa é a finalidade da sua vida. No entanto, disse Aldina Duarte, “ser melhor pessoa nem sempre é sinónimo de se ser melhor artista”. A arte dos outros tornou-a mais sensível, aguçou o seu desejo pela beleza. Mas o fado em particular já não é tão consolador: “nunca o meu fado me serviu de terapia, antes pelo contrário, é um lugar de purga”. A fadista afirmou não gostar de aprender com o inimigo e, a esse propósito, leu parte do poema que a sua amiga Maria Rosário Pedreira lhe escreveu:

Nem vou esperar por ti,

As malas estão à porta

Só me resta ir embora,

A história chega ao fim

Se esqueceres que existi,

Não julgues que me importa

O homem que és agora

Já não presta para mim

“A arte confirmou-me que somos feitos da mesma matéria dos assassinos e dos santos” sublinhou.

Amélia Muge questionou o papel da música num tempo em que todos se ofendem com tudo. A cantora posicionou-se ao lado da poesia e da música que combate, não a que ofende: “a ofensa não é leal, mata o outro porque não quer discutir. O combate dá continuidade porque dá lugar ao debate”.

Mafalda Veiga interpreta a gentileza como uma atitude política, mas não a gentiliza aparente ou aquela que nos convém. Para a cantora é bacoca a convenção instalada de que quem é gentil é fraco: “num tempo de retrocessos vários, de homofobia, xenofobia, misoginia, da ofensa de cara tapada, a gentileza pode ser uma forma de fazer justiça”. Mafalda Veiga foi perentória: “em 30 anos de carreira nunca me ocorreu usar a ofensa como instrumento”.

Mû Mbana falou-nos de uma tradição guineense: os músicos mais velhos devem aconselhar os mais novos. E o músico nunca se esqueceu do primeiro conselho que recebeu: “nunca faças uma canção para ofender uma pessoa. A canção vive para sempre e as pessoas mudam e podem penitenciar-se. A canção irá magoar para sempre”.

Uxía considera que o fascismo parece querer instalar-se. A diversidade de opinião ofende, afirmou.

Para ela “a poesia é caos, é a memória das emoções e dos sentimentos, chega ao mais íntimo. E quando vem vestida de música mais ainda, desarma os mundos falsos, é uma arma carregada de futuro”. Os poetas incomodam, disse, porque a poesia pode ser obscena, revolucionária, derrubar barreiras. A poesia e a música são as mais poderosas ferramentas para enfrentar a realidade.

Acompanhe o 20º Correntes d’Escritas no portal municipal e no facebook das Correntes d’Escritas. Consulte o programa completo do evento.