Como fotografias de um álbum, os contos de A Hora da Morte dos Pássaros, de Ignácio Martinez de Pisón, convocam momentos do passado cuja espontaneidade se revive agora com ironia e nostalgia. Nesse álbum imaginário convivem adolescentes que se iniciam no amor, casais acossados pela passagem do tempo, pais atemorizados pela saúde dos filhos, realizadores amadores de cinema porno, gente que se infiltra em banquetes, nefastas férias matrimoniais… Em A Hora da Morte dos Pássaros, Ignacio Martínez de Pisón faz o balanço da sua trajectória no género da narrativa breve e selecciona os melhores contos da sua carreira. O conjunto destaca-se pela pincelada suave, a agudeza psicológica e a subtileza expressiva do melhor Tchékhov.

A Rapariga dos Lábios Azuis, de Francisco Duarte Mangas, é uma história de mistério e vingança. E também de amor e morte – a da jovem forasteira que não podendo consumar o seu amor se envenena (ou deixa envenenar). Uma narrativa a duas vozes (avó e neto) e em dois tempos (o século XIX e os nossos dias), afinada pelos gestos e ciclos do Homem e da Terra, pelo silêncio dos pauis, o rumorejar dos bosques, o murmúrio dos ribeiros.

Francisco Duarte Mangas regressa com A Rapariga dos Lábios Azuis, memória de uma mulher segregada de oitocentos, que percorre grande parte do século vinte. Memória das árvores (“são como homens”), e das palavras – derradeiro afecto contra a barbaridade.

Coisas Que Nunca Aconteceriam em Tóquio, de Alberto Torres Blandina, conta a história de Salvador Fuensanta, um empregado de limpeza de um aeroporto que está às portas da reforma. Este lugar tão impessoal – onde trabalha há mais de vinte anos –  e os milhares de pessoas desconhecidas que diariamente cruzam o seu posto vão desenvolver nele uma capacidade especial – a de modelar a realidade a seu gosto, recriando histórias e julgando adivinhar as vidas dos passageiros anónimos.

Karla Suárez está de volta ao certame para apresentar Havana, Ano Zero. Pontos que se bifurcam no caos, emoções que se propagam na sociedade como objectos fractais até ao infinito. Em 1849 um italiano amigo de Garibaldi inventa um “telégrafo falante” em Havana. Chama-se Antonio Meucci e é um génio absolutamente desprovido de sorte. Uma série de infortúnios usurpa-lhe o direito ao reconhecimento histórico e Graham Bell passa para os anais da história como o pai do telefone. Até que em 1993, o ano zero de Cuba, o ano de todos os apagões e de todas as carências, o ano em que os sonhos e o sexo se convertem nos únicos desideratos e prazeres de uma sociedade agastada, duas mulheres e três homens decidem entregar-se à demanda de um documento que devolva o inventor ao pedestal onde merece estar. Um labirinto de vontades que confluem no objectivo de encontrar um manuscrito e divergem no fim que lhe pretendem dar.

José Manuel Fajardo apresentou O Meu Nome é Jamaica. Dana Serfati e Santiago Boroní, velhos amigos, ambos historiadores, encontram-se em Telavive, no decurso de um congresso. Santiago passou há pouco tempo por uma tragédia e está num estado de instabilidade psicológica extrema. Dana, chocada com os acontecimentos recentes na vida de Santiago, cede à ternura. Os dois passam a noite juntos. Na manhã seguinte, Santiago parte para Safede e, a meio do caminho, aparentemente, enlouquece – começa a falar uma língua desaparecida e afirma chamar-se Jamaica. A chave deste mistério estará num documento antigo que Dana vai encontrar. O Meu Nome é Jamaica é uma viagem alucinante e comovedora ao coração da História.

Onde a Vida se Perde, de Paulo Ferreira, é um belíssimo e comovente romance. Seis meses é o tempo que resta a Pedro para viver. A sua vida foi subitamente interrompida por um diagnóstico – uma sentença de morte: seis meses. O que pode, o que precisa de fazer nesses últimos dias? Não fará nada, se não cancelar as férias e organizar um jantar muito especial. Convidará quatro mulheres que teve e que perdeu (ou talvez não), quatro mulheres que são quatro percursos da sua caminhada sentimental. Pedro mantém um diálogo com Mia, Alice, Rita e Carmen, enquanto se conta toda a história com quatro histórias lá dentro: de solidão, de frustração, de amor em estado bruto. Onde a Vida se Perde é um belíssimo e comovente romance.

De Los Desvelos , de César Ibáñez Paris, deixamos o poema Instancia para aguçar o seu apetite. A obra venceu o Premio Internacional de Poesia Alonso de Ercilla 2009. “A la vida le pido poca cosa: / no sufrir demasiado; no acabar / como empecé, con el babero y lelo; / que lo oscuro no gane la batalla / que se libra en mis sesos; / y que respete un poco, la muy puta, / el cariño indomable que le tengo.”

Última Paragem, Massamá, de Pedro Vieira, é a história de um homem e de uma mulher, Lucas e Vanessa. Do seu amor trágico, como são todos, e de uma Cidade com vista para muitas vidas. Também é a história de uma doença e de uma saída de cena, de uma frustração que não se cura. Ontem, na Floresta de Teutoburgo, onde fracassaram as legiões de Públio Quintílio Varo, hoje, em Massamá, onde acaba de ruir uma hipótese de redenção. Nos dois casos, o mesmo desenlace, com mais ou menos Império em pano de fundo. No lugar do traidor Armínio, motivado pela ambição, apresenta-se João, portador de um evangelho com saída para lugar nenhum. A estação de comboio, o trabalho, o vaivém daqueles que vivem de par em par com aquilo que lhes está destinado. O acaso.

A Agio, revista de literatura com a chancela das Edições Artefacto e o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, visa essencialmente o universo da poesia (este primeiro número é quase exclusivamente a ela dedicado), pretendendo fornecer uma plataforma consistente a novos autores, ensaístas e personalidades que, de algum modo, fazem parte desse universo, não fechando a porta, porém, a quaisquer outros tipos de criação literária.

Duas margens tem como propósito constituir-se como plataforma aberta de divulgação editorial e literária transnacional e transcontinental, com inclusão de produção literária inédita bilingue, e lugar de encontro e diálogo entre autores, editores, tradutores, críticos, livreiros, ilustradores e designers, leitores e outros agentes do campo literário (fundações, prémios, congressos, encontros literários, feiras do livro).

Palabra Ibérica nasceu em 2006 com a intenção de dar a conhecer, em cada país, as obras mais recentes dos poetas ibero-americanos. A edição é bilingue (espanhol e português) e no seu catálogo figuram autores portugueses, espanhóis, brasileiros e mexicanos.