O equipamento municipal nasceu da reabilitação do edifício do antigo matadouro, adaptado para Auditório Musical permitindo o ensaio, ensino e realização de pequenos espetáculos culturais, com capacidade para mais de uma centena de pessoas.

 

O edifício pré-existente é um espaço antigo preparado e dimensionado para o abate de animais de porte variado, cuja função foi introduzindo no espaço, um carácter muito peculiar. Com a extinção do matadouro, a Câmara Municipal ocupou transitoriamente o espaço para armazém de serviços gerais, e cedeu recentemente o mesmo para a instalação da sede da Banda Musical da Póvoa de Varzim.

No portal municipal, pode ler parte da memória descritiva e justificativa do projeto, da autoria de Rui Bianchi, na qual o arquiteto explica a atitude subjacente a esta empreitada: “A intervenção vai no sentido de preservar tanto quanto possível a pré-existência, naquilo que é a memória, o espaço e as tecnologias da época de construção. No fundo, o seu carácter original e peculiar.”

Por agora, partilhamos outros aspetos tratados no estudo de Rui Bianchi que ajudam a compreender o processo de reabilitação de que o edifício foi alvo.

Preservar e renovar ditaram a estratégia de intervenção deste projeto, sendo que: “nos espaços circundantes, adossados aos muros limites do terreno, aonde existiam umas construções precárias, construiu-se um novo espaço para os serviços de apoio às atividades da nave central, de ensaio, ensino, serviços administrativos e de convívio; uma vez que existia um ressalto promovido pelo muro de fundação da nave central, adaptou-se a um passadiço nivelado que permite realizar o acesso a pessoas com mobilidade condicionada; a intervenção procurou deixar ou tornar visível nos detalhes da pré-existência, a memória de um tempo passado, quer pela evidência dos materiais e do desenho, quer pela interpretação dos valores dos espaços”.

Sobre a metamorfose do Matadouro, pode ler-se: “A nave central é o local aonde se desenvolveu todo o enredo da história do matadouro ao longo de um século, tendo posteriormente servido de espaço de armazém para apoio aos serviços municipais.

É o espaço destacado de todo o conjunto, quer pela sua posição mas também pela sua massa no contexto do local. Quando se entra no espaço logo se percebe da sua importância pela amplitude e pela sua escala, considerando as proporções do todo, mas também pelo peso da história que a função que teve deixou incrustada nas suas paredes e nos recantos do seu espaço.

Era portanto o local mais significativo da intervenção e foi o local aonde deixamos que essas marcas conduzissem o processo, a que se associava um orçamento limitado, capaz de moralizar o discurso da ideia, num certo sentido. Considerou-se como critério fundamental condutor do processo a ideia de preservar todos os elementos principais que constituíssem a base do edifício existente. Desde as paredes de alvenaria, configuração dos vãos, pavimentos, coberturas e outros elementos que de uma forma ou de outra fizessem parte da memória do edifício. Era fundamental respeitar como critério, o princípio da adequabilidade e da reversibilidade como estratégia para as opções a desenvolver.

Com base nestes pressupostos, rebocaram-se as paredes de alvenaria mantendo os vãos das portas e das janelas, deixando visíveis as cantarias (algumas em estado muito degradado), redesenhando-as de forma neutra apenas na sua configuração interior, de modo a garantir uniformidade, destacando o vazio produzida na parede pela intensidade da luz. Refizeram-se as estruturas de madeira da cobertura e dos telhados, conforme o original, e foram pintados com algum dramatismo, na cor “sangue de boi” como evocação da memória de um tempo passado.

Na nave foi construída uma galeria que introduz uma outra espacialidade pela redução da importância das paredes laterais na configuração do espaço e pela redefinição das aberturas laterais na sua relação com a cota do pavimento.

Manteve-se o lajedo do pavimento existente que possui uma inclinação longitudinal e convergente para o eixo central, por onde escoavam as águas das lavagens dos animais, ainda que coberta por um estrado em soalho de pinho, nivelado. Aproveitou-se o desnível das cotas de soleira para organizar um estrado que configura a ideia de um platô que permitirá a realização de pequenos espetáculos musicais ou outras performances eventuais”.

Este projeto de reabilitação é candidato ao Prémio IHRU 2012, promovido pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, que consiste na atribuição de distinções a empreendimentos de habitação de interesse social e a obras de reabilitação urbana. O prémio IHRU encontra-se estruturado em duas variantes, a de Construção e a de Reabilitação, cada uma com linhas específicas.

Enquanto aguarda, ansiosamente, por assistir a um espetáculo neste novo espaço, convidámo-lo a uma visita virtual.