Ivo Machado lançou o livro Animal de Regressos que, mais do que um sintagma linguístico, é o reconhecer, dentro de nós, um corpo com suas circunstâncias, mas um corpo feito para a transcendência. Ainda um regresso a uma temática particularmente marcante para o poeta: o silêncio de Deus. Ou à incomunicação com Deus. As imagens da natureza, o tangível, se contrapõem com esse silêncio, inacessível, mas que o Poeta deseja presente como grito que atravessa as carpintarias onde se moldam as palavras.

Dai-lhes, Senhor, o Eterno Repouso, de Miguel Miranda, foi apresentado pelo autor na noite de ontem. A ameaça de um grande atentado contra o Papa desencadeia uma intricada investigação. Mas, no meio eclesiástico, as mortes não explicadas sucedem-se, adensando um clima de suspeita e medo. Entretanto, o porta-aviões Varyag, transformado em casino flutuante, é palco para o assassínio de Lady Godiva, uma bela e afamada cantora. Desvendar quem matou, como o fez e porquê é um dos desafios para o detective Mário França. O outro é mergulhar no passado e resolver um enigma. Do seu escritório no Muro dos Bacalhoeiros, no Porto, será ao som do Requiem de Mozart que ele conduzirá a investigação até ao sucesso final.

Mário Pinheiro desvendou um pouco da sua mais recente obra, Fatalidades Modificáveis & Adágios do Sr. Vidal. À semelhança do Bricabraque & Horismós, do mesmo autor, este livro tem duas partes distintas, que dão origem ao nome.  O conteúdo da primeira parte, Fatalidades Modificáveis, pode ser considerado prosa poética, e é a expressão individual e subjectiva de fatalidades quotidianas,  trabalhadas como uma amálgama de reportagem e devaneio. A segunda parte, Adágios do Sr. Vidal, embora sustentada pelo processo criativo da primeira,  à medida que se definia foi adquirindo forma análoga aos textos do Sr. Keuner, de Bertolt Brecht, e assim se assumiu, livre de preconceitos,  incapaz de discernir entre o que é coincidência, fluxo e influência.

A edição de coleccionador d’O Livro da Avó foi lançada ontem por Luís Silva. O Livro da Avó resgata memórias de ternura: das festas com coca-cola, das brincadeiras com os primos, dos passeios e da varanda com o mar como  horizonte… Grande, velhinha e enrugada como a maioria das avós. E quando já somos grandes e nos lembramos percebemos a falta que nos fazem…!

Finalmente, O Revisor, de Ricardo Menéndez Sálmon, foi apresentado ao público. Em 11 de Março de 2004, a história de um país denominado Espanha sofreu uma mudança irreversível. Este romance fala-nos daquele dia terrível e, mais tarde, da sua reconstituição, por um revisor de provas. Um revisor que é obrigado a corrigir os erros dos outros e que, naquele dia, tropeça numa errata incorrigível e escrita no livro da realidade. Concebido como o testemunho de um cidadão comum, mas sobretudo como uma confissão de amor, O Revisor é uma homenagem àqueles que nos permitem manter o bom senso nos tempos de incerteza, e um testemunho impressionante acerca do poder do amor nas suas diversas formas – a amizade, a paternidade, a sexualidade – como abrigo contra a inclemência da vida e contra as mentiras do Poder. Assim, se A Ofensa indagava a Segunda Guerra Mundial num cenário de História lida e interpretada, se Derrocada se interrogava, a propósito dos nossos medos, através da História intuída ou imaginada, O Revisor aproxima-se, sem rodeios, através do narrador implacável, da História vivida e protagonizada na primeira pessoa. Com este romance, Ricardo Menéndez Sálmon termina a Trilogia do Mal que o guindou a um lugar cimeiro na literatura espanhola.