A mesma palestra decorreu, também, na Escola Secundária Rocha Peixoto.
Proferida por Mário Cunha, a palestra organizou-se no âmbito da Semana do Ambiente e, tal como explicou Manuel Angélico, Vereador do Pelouro do Ambiente, na abertura da sessão, pretende “realçar o que temos de bom nas nossas praias, de forma a valorizar e conhecer o nosso litoral”.
Aluno do 2º ano de Biologia Marinha e bolseiro do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMAR), Mário Cunha fez questão de iniciar a sua intervenção frisando o grande impacto que o Homem tem na Ecologia Marítima. De facto, a faixa litoral é não só uma área onde se concentra grande parte da população, como também uma grande quantidade de ecossistemas.
E para ajudar os alunos a perceber a biodiversidade existente, Mário Cunha fez a distinção entre estuários e zona intertidal. A primeira, de que já todos ouvimos falar, é de extrema importância para a produtividade biológica, é um foco de alimentação para muitas espécies de peixes, apresenta um papel de extrema relevância na migração das espécies como a lampreia ou a enguia, e funciona também como maternidade para, por exemplo, o sargo ou o linguado. Já a zona intertidal, ou seja, a que está situada entre o limite da maré baixa e o limite da maré alta, é sensível a elementos como a construção de protecções costeiras, como os esporões, que resultam na alteração das condições naturais ali existentes. A própria acção humana pode também resultar em consequências nefastas nesta zona, dado que as formações rochosas que surgem na maré baixa são muito frequentadas por banhistas que, como lembrou Mário Cunha “matam espécies sem dar por isso”.
Em termos de impacto ambiental, Mário Cunha referiu a construção de barragens, que levam ao assoreamento das albufeiras e à redução do transporte sedimentar, e a dragagem, usada para permitir a navegabilidade. Esta resulta num défice de sedimentos, que por sua vez leva à deriva litoral, uma tentativa da Natureza para repor esses sedimentos em falta. Com a dragagem são recolhidos dois tipos de sedimentos: os de boa qualidade, usados na construção de civil, e os de má qualidade que são depois transportados para a plataforma continental. No entanto, e como se tem verificado que as empresas não respeitam a distância da costa a que devem ser colocados estes sedimentos, as espécies existentes na zona de deposição correm o risco de ficar soterradas e morrerem por asfixia, uma consequência que afecta sobretudo as espécies ventónicas, isto é, as que habitam a mais profundidade. Depositar estes sedimentos na deriva litoral é uma solução apontado por Mário Cunha, e que permitiria que a extracção de areias funcionasse como um ciclo.
A erosão costeira é outra das consequências da acção humana, e talvez a mais visível para aqueles que todos os anos se deslocam às praias. O descalçamento das dunas, o aumento do nível médio do mar e as obras de protecção do litoral são, uma vez mais, os factores na base desta problemática. A nível da biodiversidade do litoral, as consequências vão desde a diminuição dessa biodiversidade, até ao aparecimento de espécies invasoras, que encontram neste “mundo” em mudança as condições ideais para se propagarem.
O ordenamento do litoral, a implementação de programas de vigilância e de monitorização dos ecossistemas costeiros e a gestão da utilização recreativa da praia são quatro medidas defendidas por Mário Cunha que devem ser tidas em conta no futuro, de forma a evitar o agravamento dos problemas que neste momento afectam todo o litoral português.
A Semana do Ambiente termina no próximo dia 5, Dia Mundial do Ambiente. Durante toda esta semana o público é convidado a comparecer na Praça do Almada onde, no Coreto, está a decorrer um Ateliê do Ambiente que propõe actividades diversas com base na reutilização e reciclagem de materiais. No dia 4 decorre nova palestra sobre o Ambiente no Diana Bar, às 14h30, e no dia 5, na EB 1 Fieiro, em Aguçadoura, é lançado o Triopolis, uma ferramenta multimédia didáctica que a autarquia vai oferecer a todas as escolas básicas do concelho.

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