Para Tânia Ganho, “O livro é uma parte de mim. Enquanto o objecto durar, eu fico.”, afirmou a escritora partilhando com o público que um dos momentos mais importantes da sua vida aconteceu no lançamento do seu primeiro livro quando uma rapariga de 19 anos lhe disse que o livro tinha mudado a sua vida. A escritora e tradutora considera que “os livros são vidas que se agarram a nós” e cada livro que publica é uma parte da sua vida que passa. À pergunta “Porquê que escreve?”, Tânia Ganho revelou que nunca teve uma resposta para ela pois “escrevo desde que sei escrever e escrevo porque é a minha maneira de estar. Tento escrever aquilo que quero, com convicção.” acrescentando que “escrever é uma espécie de esquizofrenia”. “Escrever é um pouco como ser encenador e actor” porque o acto de escrever implica pôr em palco uma acção e, simultaneamente, criar personagens e encarná-las, concluiu Tânia Ganho.

A propósito de outra passagem do mesmo poema de Caeiro que diz “Esse é o destino dos versos./ Escrevi-os e devo mostrá-los a todos”, João Tordo considera que hoje em dia vivemos numa dicotomia entre o escritor que não se quer mostrar e aquele que escreve para os leitores e esta marca a diferença entre literatura erudita e literatura comercial. O escritor encara como uma falácia os escritores que rejeitam o sucesso e dizem que escrevem para si próprios. E recorrendo a outros versos do mesmo poema “Quem sabe quem os terá?/ Quem sabe a que mãos irão?”, João Tordo referiu que estes exprimem a alegria e drama de quem escreve pois “a ambição do romancista é mudar o ponto de vista de quem lê”. O escritor expressou que o poema de Alberto Caeiro remete para a interioridade de quem escreve e disse que “os livros deixam de ser nossos quando são publicados mas também são nossos porque resgatamos as pessoas ou personagens da morte mantendo-as nas nossas páginas”. João Tordo terminou dizendo que a literatura é parte de uma raiz que é a “raiz do mal”, à qual se submete e “sinto-me quase alegre”.

À semelhança de João Tordo, Isaac Rosa também escolheu o verso “Quem sabe quem os terá?” para reflectir sobre quem são os destinatários daquilo que o escritor produz. “Os poetas têm destinatários porque podem dedicar os seus versos a quem entenderem mas os romancistas, normalmente, não pensam nos destinatários porque escrevem para si mesmos e alguns pensam nos compradores de livros” afirmou o escritor espanhol. Como leitor, Isaac Rosa considera que ao ler um romance pensa que o autor não sabe que ele existe e isto preocupa-o enquanto escritor porque reconhece que existe um leitor inteligente. “Os meus romances nascem da consciência de que existem leitores inteligentes, que têm uma participação no livro” declarou o escritor manifestando o seu sentido de responsabilidade “tento ter uma escrita responsável. O escritor deve ser consciente”.

Para Bernardo Coelho, toda a produção artística e literária é feita com a consciência de que “passa e não fica”, ou seja, tem uma opinião contrária àquela que o verso exprime “Passo e fico”. O escritor considera que o poema de Alberto Caeiro associa o poeta à natureza, encarando o poema como uma paisagem, com naturalidade, ideia que para si é terrível pois “literatura é singularidade, é limite”.

Começando por referir o embaraço em abordar o verso de Caeiro, que aliás foi comum a todos os escritores da mesa, Germano Almeida decidiu encará-lo como uma questão “Passo ou fico?” à qual responde “Não acredito que passo e fico.”. O escritor revelou que não acredita na imortalidade e referiu que através da escrita estabelece uma relação de divertimento com os leitores que lhe pedem para escrever porque precisam de dar umas gargalhadas. “Escrevo para me divertir e se me divertindo divirto os leitores, é uma enorme satisfação” conclui Germano Almeida que confessou que “Só escrevo quando me apetece escrever, quando tenho uma história para contar e descobri a forma como a escrever. Se tenho uma história conto, se não tenho não me ralo”.