Carlos Quiroga foi o moderador da primeira Mesa da manhã.

“Interessa-me o subconsciente, o que não é visível. E é isso que me interessa contar nos meus romances”, explicou Ignacio del Valle. “Vemos nos telejornais notícias que dão conta que um homem matou a sua esposa e perguntámo-nos o motivo. Às vezes, não existem motivos aparentes, é o inconsciente a funcionar”. O escritor acrescentou, ainda, que lhe interessa a transcendência: “muitos encontram-na através da religião. A maneira de eu a ver é através da arte”.

Ignacio del Valle sublinhou que “a vida é muito dura” e que “não há forma de nos levantarmos de manhã se não for a ironia e o humor”.

Sobre as suas personagens, o escritor afirmou interessar-lhe as suas debilidades: “há uns anos preferia a violência, as batalhas sangrentas mas, agora, interesso-me mais pelas frustrações, pela hipocrisia, pela relação com o sexo, com a glória, ou a ilusão dela”. Na vida, como nos romances, ninguém é totalmente mau. Para o escritor “há sempre uma característica simpática como, por exemplo, ter um cão. Amamos odiar e os maus, na ficção, são os totalmente maus, como o Drácula. Mas a realidade não é assim. Só existem heróis porque existe o mal. A maldade tem de servir de catarse para o leitor. Os heróis podem ser um pouco tontos, mas os vilões não podem ser tontos, têm de ser valentes e inteligentes.

Teolinda Gersão começou por afirmar que “ninguém nos dá nada. Temos de conquistar tudo. Temos de encontrar uma linguagem diferente mesmo que as palavras sejam as mesmas”.

Para a escritora, “as palavras são as circunstâncias da nossa vida. A língua em que nascemos é-nos dada, de facto”. Teolinda Gersão sublinha que estudar outras línguas abre os horizontes e estimula a nossa relação com a língua materna. Machado de Assis e Guimarães Rosa são dois dos autores que a escritora admira e cresceu a lê-los: “apesar da língua ser a mesma, as enormes diferenças transfiguram-na”.

Teolinda Gersão encontra um ponto em comum com Ignacio del Valle: “a mim também interessa o inconsciente”.

Para a autora, “a memória é algo sem a qual não há literatura. O grande tema da literatura é o tempo. Dentro de um romance há uma passagem do ponto a para o b e o tempo faz desenrolar o conflito, a intriga”. Teolinda Gersão confessou que “escrever um policial nunca me irá seduzir. As perguntas sem resposta é que me interessam. Interessa-me a inovação. Ficaria aborrecida de morte se os livros tivessem sempre o mesmo formato e se eu tivesse de obedecer a determinado padrão”. Lobo Antunes e Saramago foram dois dos exemplos dados pela autora de escritores que trabalham com ideias fortíssimas que depois preenchem e das quais o leitor estava à espera. “Saramago, aliás, defendia que o romance iria transforma-se em ensaios. Para mim, não é verdade, não sabemos viver sem romance. O romance está mais vivo que nunca”. Teolinda contou que por ocasião do lançamento do seu segundo livro, vários escritores zangados escreveram-lhe, dando conta do desagrado por ser um trabalho tão diferente do primeiro. Sobre este assunto, a escritora é perentória: “não posso seguir o que esperam de mim. Tenho de seguir os meus impulsos. Nos meus 17 livros, os temas são os mesmos (sexo, violência, morte) mas sempre vistos e contados de formas diferentes”.

Karla Suárez contou que a irmã pediu-lhe para tomar conta do seu filho enquanto ia trabalhar. Depois de brincar com o sobrinho, a escritora pediu-lhe para desenhar enquanto terminava um conto no computador. O menino perguntou-lhe o que ela estava a fazer e ela respondeu: “a escrever um conto”. Outra pergunta não tardou: “o que é um conto?”. “É um jogo de palavras. Eu escolho as palavras, junta-as e conto uma história”, explicou a tia. “Quero jogar esse jogo”, pediu o sobrinho. Karla Suárez contou que todo o tempo passado com o sobrinho nessa tarde foi a jogar às palavras. A escritora sugeria uma palavra e a partir dela o rapaz tinha de inventar uma história.

Quando a irmã de Karla regressou, o menino disse-lhe que a tia não trabalhava como ela, apenas jogava o dia todo e que, assim, era muito mais divertido.

Esta memória partilhada pela escritora levou à conclusão que, realmente, o jogo das palavras é o que ela mais gosta de fazer e pretende jogar para sempre.

Cristina Norton é argentina e pescaram-na, como a própria diz: “apaixonei-me por um português e por cá fiquei”.

“A minha memória não registou as palavras que me deram. Só sei que tinha uma ama eslava que comia todos os restos de papa que eu não comia com medo que faltasse a comida na Argentina, até que os meus pais lhe explicaram que não lhe iria faltar alimento. Falavam-me em castelhano e em francês. O meu pai era judeu polaco e dizia-me que não valia a pena aprender uma língua que não iria sobreviver”. Cristina Norton considera que a escrita um ato solitário: teatralizar com as palavras, brincar com elas não é solitário. “À medida que crescia o meu braço ia retirando das estantes livros que não eram para a minha idade”, confessou. “Mais tarde, tentei imitá-los e sentia muito orgulho em escrever como eles. E, de tanto brincar com as palavras fui encontrando a minha voz, uma musicalidade só minha. Depois de onze livros continuam a aparecer tonalidades novas”. No entanto, Cristina Norton explicou que, em todos os seus livros há três temas sempre presentes: Argentina, Portugal e judaísmo.

Finalmente, Tony Tcheka começou por abordar o tema afirmando que, na sua Guiné,

“a palavra palavra encerra uma certa ambiguidade. Todos temos direito a ela mas pode significar desavença, conflitualidade”.

Tony Tcheka escolheu as palavras proferidas por Raduan Nassar, por altura da receção do Prémio Camões, a semana passada, para mostrar o seu sentimento em relação à (des)informação e ao período que o mundo atravessa, com a proliferação de partidos populistas, que espalham o racismo, a xenofobia, o medo: “vivemos tempos sombrios, muito sombrios”.