O verso foi retirado do poema “No ponto onde o silêncio”, de Sophia de Mello Breyner.

Pedro Teixeira Neves foi o escritor escolhido para moderar a Mesa constituída por Frank Báez, Gonçalo M. Tavares, Itamar Vieira Junior, Mbate Pedro e Sergio Ramírez, uma viagem pela República Dominicana, Portugal, Brasil, Moçambique e Nicarágua.

O poeta oriundo da República Dominicana, Frank Báez, afirmou que o verso lembra-lhe a sua infância, desprovida de conforto, de livros, de escritores. Na República Dominicana, segundo o autor, ao contrário de Cuba, México, Argentina ou outros países latino-americanos, apenas existem obras representativas de uma ou outra época, não uma obra que transcenda o tempo e que fascine diferentes gerações. Muitos escritores partiram do país levando consigo ideias, conhecimento e paixão pela literatura. Para Frank Báez, apenas um poeta consegue suportar o poço profundo que é o vazio.

Já Gonçalo M. Tavares afirmou que o vazio é aquilo que nos permite ver as coisas, o que lhes dá visibilidade. O escritor português explicou que, na literatura, se pode ser preciso e exato mas que essa precisão e exatidão pode ser alcançada através de metáforas: “A literatura pode acertar no alvo indo por caminhos completamente opostos”.

Para o escritor, “o vazio é o que nos permite viver” e, ao contrário do que muitos colegas afirmam, a angústia não é a folha estar em branco; é precisamente o oposto: “olhamos para uma folha e o maior esforço é o de esvaziarmos a nossa mente de tudo o que lemos, tudo o que vimos, para criar algo novo”. A este propósito lembrou o Surrealismo, onde a tela em branco é o que permite a imaginação. “Diante do vazio posso criar as minhas imagens”.

Para Itamar Vieira Junior “o vazio é o nada, a ausência, mas a sua precisão pode significar várias coisas”. O escritor brasileiro afirmou que todas as ações humanas são atos políticos e, por isso, toda a arte é política. A palavra é o que distingue o ser humano dos outros seres e o discurso é política. O silêncio pode ser a ausência da voz, mas a voz é mais do que a capacidade de comunicar, é a manifestação de quem luta pelos seus direitos”. Itamar Vieira Junior falou, então, sobre o momento político que o seu país atravessa: “O Brasil vive um momento dramático na sua democracia ainda muito jovem, com pouco mais de 30 anos, e vivemos um momento em que há uma ascensão assustadora da extrema-direita e de toda uma agenda fascista. O escritor lembrou o assassinato da Vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, um atentado à democracia. O seu livro Torto Arado fala de uma luta pela terra que é uma luta que permanece nos nossos dias e com muita ênfase. “O Brasil tem um histórico de violência no campo que é assustador. Nos últimos anos, muitas lideranças de movimentos de ribeirinhos, de trabalhadores rurais, de quilombolas, foram assassinados nesse período e isso está muito marcado na nossa sociedade”. 

Do Brasil partimos para Moçambique com Mbate Pedro. O escritor falou-nos de “muros que a poesia vai derrubando muito antes de estes serem levantados” e de um mundo cada vez mais pobre no qual é provável que chegue o dia que, entre dois países, nasça um outro país. “Os que erguem muros, interiores e exteriores, estão do lado contrário da História. Será que num mundo tão individualista e sacana a nossa poesia faz sentido?”

Terminamos a viagem na Nicarágua pela voz de Sergio Ramírez. Poucos conhecem melhor as entranhas do poder na Nicarágua do que o escritor Sergio Ramírez. Lutou nas hostes revolucionárias do sandinismo que deram fim à dinastia dos Somozas, em 1979. Foi tão próximo dos líderes da revolução que se tornou vice-presidente de Daniel Ortega, entre 1985 e 1990. Deixou o cargo quando percebeu que a revolução tomava rumos com os quais não compactuava. Em 1996, abandonou a política para se dedicar apenas à literatura. Desde então, não hesita em denunciar o governo de seu ex-parceiro. 

Para o escritor “não existe vazio mais aterrador do que a página em branco”.

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