Esta 42ª edição do Festival arrancou ontem à noite, no Cine-Teatro Garrett, com uma conferência intitulada “Amália Rodrigues: O Fado no Mundo e o Mundo no Fado”.

Numa altura em que se celebra o Centenário do Nascimento de Amália Rodrigues (2020-2021), o musicólogo deu a conhecer a vida e obra da artista universal considerada uma das personalidades mais importantes da história da música do século XX. 

Rui Vieira Nery revelou que as raízes musicais da Amália não estão no fado de Lisboa: “ela vai fazendo uma espécie de tecido de memórias musicais do que a família ouve (cantigas da Beira-Baixa) e dos filmes argentinos e musicais espanhóis que gostava de ver. Tudo isto se vai cozinhando numa personalidade artística muito especial”.

O musicólogo explicou todo o percurso profissional da artista que, em 1938, inicia a sua carreira como fadista no Retiro da Severa, Casa de Fados, em Lisboa. Esta experiência foi um sucesso extraordinário e os ecos desta nova estrela são tais que as Casas de Fado esgotam constantemente para a ouvir. Em 1940, o Teatro de Revista vai buscá-la e começa a ser estrela convidada das revistas do Parque Mayer, onde encontra uma realidade musical diferente. Amália Rodrigues gravou o seu primeiro disco em 1945, no Brasil, que só mais tarde (1950-51) chegou a Portugal. Em 1947, a artista estreia-se no cinema com o filme “Capas Negras”. Entretanto, percorre vários países e os seus concertos são difundidos por todo o mundo. Em 1962, abre-se um novo capítulo com o álbum “Busto”, que marcou o início de colaboração de Alain Oulman com Amália. A artista atinge o auge da sua carreira e percorre o mundo inteiro.

Na década de 70, Amália Rodrigues começa a mostrar dificuldades vocais e com o 25 de Abril há uma campanha brutal de calúnias sobre si e foi objeto de rejeição, levando a que deixasse, praticamente, de cantar em Portugal.  No entanto, nos fins da década de 70 e anos 80 continuou a arriscar fora do país. Em 1985, dá um grande concerto no Coliseu dos Recreios que marca a reconciliação definitiva dos portugueses com Amália e até ao seu último concerto, em 1994, vai dando concertos ocasionais.

Rui Vieira Nery revelou que “toda a vida dela foi construída em torno da subida ao palco. Tudo o mais foi secundarizado”. Morre em 1999 e meio milhão de pessoas sai à rua para acompanhar o corpo, gerando-se “um consenso em torno do seu nome que foi decisivo para o consenso na candidatura do Fado a Património Mundial, em 2011, ou não fosse ela o “ícone absoluto deste género”.

O musicólogo terminou constatando que “a identidade musical portuguesa é muito mais do que o fado, mas não seria a mesma sem o fado”.

Presente na conferência, esteve o Vice-Presidente e Vereador da Cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Luís Diamantino, que subiu ao palco para presentear Rui Vieira Nery com uma lembrança e agradecer-lhe pelo facto de ter trazido até à nossa cidade o mundo do Fado e a Amália. Além disso, porque trouxe também a esperança para a cultura para a nossa comunidade, transmitindo que é com grande felicidade que constata que a cultura não vai sucumbir e vamos dar mais valor ao que até então não dávamos.

O Festival prossegue hoje, às 21h45, na Igreja Matriz, onde terá lugar o primeiro concerto com a estreia da orquestra de câmara barroca Divino Sospiro e do renomado contratenor Andreas Scholl. Juntamente com a soprano poveira Raquel Camarinha, vão interpretar Stabat Mater de Pergolesi, uma das obras mais celebradas do período Barroco, que relata de forma intensa o sofrimento de Maria perante a crucificação de Jesus.

Acompanhe o 42º Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, aqui.