Por João Morales; Póvoa de Varzim; 27-02-2015
Por aqui, nas Correntes d’Escritas, a noite de Quinta-feira, dia 26, foi passada por entre lançamentos de livros, numa sala do Hotel Axis Vermar, absoluta e calorosamente à cunha para o efeito.
Depois de uma conversa entre Almeida Faria e o seu editor, Vasco David, a propósito da reedição de Cavaleiro Andante (Assírio & Alvim), foi a vez de conheceremos melhor A Doença da Felicidade, de Paulo José Miranda, e Éter, de António Cabrita (ambos lançados pela Abysmo), bem como As Mulheres e a Guerra Colonial, por Sofia Branco (Esfera dos Livros).
Mas o ponto alto do serão seria, como esperado, a entrega aos leitores, na presença do “visado”, de um livro composto por 45 depoimentos em justíssima homenagem a um pensador e Professor que é também uma das presenças fixas nas Correntes d’Escritas, desde a primeira edição: Onésimo, Único e Multimodo (Org. de João Maurício Brás; Opera Omnia) destina-se a captar e fixar a caleidoscópica actuação intelectual a que Onésimo Teotónio Almeida nos tem habituado ao longo dos anos, pontuada pelo humor e capacidade ímpar de convívio, mas sem nunca descurar um permanente desafio e diálogo com o Saber e o Partilhar, pedras-de-toque da postura deste académico, muitas vezes mais conhecido por ter uma das maiores – talvez a maior – selecções de anedotas e divertidos ditos para todas as ocasiões.
Vários amigos leram textos seus, incluindo a sua mulher, enquanto Onésimo, na antepenúltima fila da sala a abarrotar, comovido e até um pouco nervoso (como é lhe raro, mas mais que compreensível), escutava e interiorizava, como se lhe depusessem palavras novas.
Todavia, e malgrado ferir susceptibilidades, tenho de destacar dois destes textos. Um, lido pela já referida sua mulher, Leonor, escrito em 1973, alegadamente «sobre nada» onde através da utilização de diversos vocábulos acabados em «nada» e da palavra sabiamente manipulada, vai tecendo duras críticas à condução ideológica, política, económica, social, no seu todo, sempre igualmente preocupante.
O outro, já bem conhecido dos seus leitores, «Que Nome é Esse, ó Nézimo?», lido pelo seu amigo, poeta e declamador Aurelino Costa. O mote seria apenas a estranheza do seu nome? Só para quem lê à superfície. Para quem tanto combate a falta de rigor, o receio frente ao Outro, o hábito nada investigar quando se deparam novas questões, as ideias pré-concebidas, o dizer mal só porque sim e outros vícios do acomodamento mental, a tal estranheza do nome serve que nem uma luva enquanto metáfora ideal para dar corda a essa postura crítica. Sempre divertida, porque o humor é para os sábios…
E lembrei-me de uma passagem da Cena do ódio, de Mestre José de Almada Negreirios. «Tu que dizes que não percebes; rir-te-has de não perceberes?»