Maria Teresa Horta

A escritora e jornalista Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Activa militante do movimento feminista em Portugal, foi uma das fundadoras, no pós-25 de Abril, do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM).

Tendo-se tornado, nos anos cinquenta, na primeira mulher portuguesa a exercer funções dirigentes no movimento cineclubista – no ABC Cine-Clube de Lisboa – Maria Teresa Horta estreou-se na poesia em 1960 com Espelho Inicial, a que se seguiu Cidadelas Submersas, 1961, e a participação, com Tatuagem, no grupo Poesia 61 (a par de Fiama Hasse Paes Brandão, Luísa Neto Jorge, Gastão Cruz e Casimiro de Brito).

A década de 60 foi, sobretudo, de criação poética, com Verão Coincidente (1962), cujo poema de abertura, que dá o título ao livro, foi adaptado ao cinema pelo realizador António Macedo; Amor Habitado (1963); Candelabro (1964); Jardim de Inverno (1966); Cronista não é Recado (1967). Teve ainda uma incursão na dramaturgia, com a peça em um acto O Delator, incluída na colectânea “Novíssimo Teatro Português” (1962). O Delator foi adaptado à rádio e à televisão, tendo sido transmitido pela RTP em 1976.

Já em 1971 publicou Minha Senhora de Mim, livro de poesia que o Governo de Caetano proibiu e a PIDE/DGS apreendeu. Por essa altura teve o telefone sob escuta, tendo sido alvo de uma campanha de ameaças e insultos e de uma agressão na via pública por parte de serventuários do regime.

No romance, estreou-se em 1970 com Ambas as Mãos sobre o Corpo. No ano seguinte publicou, em co-autoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, o livro Novas Cartas Portuguesas (Estúdios Cor), que valeu às escritoras um processo judicial por «ofensa à moral pública». A obra obteve grande repercussão junto da crítica internacional, tendo sido traduzida em dezenas de países, com sucessivas reedições.

Por toda a Europa Ocidental e nos Estados Unidos, movimentos de mulheres promoveram manifestações e concentrações em apoio das escritoras, denunciando o processo político em que respondiam. Simone de Beauvoir, Marguerite Duras, Christiane Rochefort, Delphine Seyrig, Monique Wittig, Kate Millet, Susan Sontag, entre outras, distinguiram-se nesta vasta movimentação internacional que acentuou o isolamento internacional da ditadura de Marcelo Caetano.

Absolvidas as «Três Marias» já depois do 25 de Abril, o livro Novas Cartas Portuguesas foi reeditado entre nós pela Editorial Futura, posteriormente por Moraes Editores – com prefácio de Maria de Lourdes Pintasilgo -, e mais recentemente, em 1998, por Publicações Dom Quixote, que, em 2010, publicou uma nova edição, organizada e anotada por Ana Luísa Amaral.

Entretanto, a produção poética de Maria Teresa Horta prosseguiu em 1975 com Educação Sentimental, a que se seguiu Mulheres de Abril (1976), Os Anjos (1983), Minha Mãe Meu Amor (1984), Rosa Sangrenta (1987), Destino (1997) Só de Amor (1999).

Já em 2006 publica Inquietude e em França Les Sorcières – Feiceiras, edição bilingue da Actes Sud, e no Brasil a Antologia Pessoal + 21 poemas inéditos (da 7letras), e Palavras Secretas antologia poética organizada pelo poeta Floriano Martins (da Escrituras).

No domínio da ficção, no mesmo período, publicou Ana (1974), obra posteriormente publicada em França, numa edição bilingue, pelas Éditions des Femmes (Paris); Transfer, conto, única participação portuguesa na colectânea Feminino Plural (1984); Ema (1984), Cristina (1985), e A Paixão Segundo Constança H. (1994). Está ainda representada, com Lídia, na colectânea Contos (Editorial Caminho) e com o conto Com a Mão Firme e Doce na colectânea Fantástico no Feminino.

Numa outra área, organizou e prefaciou a antologia A Mãe na Literatura Portuguesa, editada pelo Círculo dos Leitores em Março de 1999 e já objecto de reedição.

Muitos dos seus poemas, bem como trechos de obras de ficção, têm sido incluídos em antologias portuguesas e estrangeiras. Tem, além disso, colaboração dispersa por revistas e jornais, como Cadernos do Meio-Dia, Artes e Letras, Hidra 1, Diário de Lisboa, República, A Capital, O Século, Diário de Notícias, Jornal de Letras, Ler, Colóquio Letras

No exercício da actividade profissional de jornalista, dirigiu o suplemento Literatura & Arte do vespertino A Capital na primeira metade dos anos setenta. Ainda antes do 25 de Abril foi crítica literária na revista Flama e no semanário Expresso. Em 1978 foi convidada por Maria Alda Nogueira a participar na elaboração do projecto de um mensário feminino. Assim nasceu a revista Mulheres, de que Maria Teresa Horta foi chefe de redacção até fins dos anos oitenta, e que se destacou na denúncia das múltiplas formas de discriminação das mulheres. Posteriormente integrou a redacção do jornal O Diário, trabalhando na área cultural, coordenou a secção Mulheres da revista Marie Claire e foi crítica literária do programa televisivo “Acontece”, da RTP2. Durante dezoito anos foi colaboradora permanente do Diário de Notícias (entrevistas a escritores e crítica de livros).

Grande parte da sua obra poética está reunida em “Poesia Completa” (dois volumes), de 1982 (Litexa), e em “Antologia Poética”, organizada por David Mourão Ferreira para o Círculo dos Leitores em 1994. Em fins de 2003, a Gótica editou o livro Antologia Pessoal – Cem Poemas, organizada pela própria poetisa. Já em 2008, com a chancela da Dom Quixote, publicou Poesia Reunida, obra prefaciada por Maria João Raynaud.

Em 2004, Maria Teresa Horta foi condecorada pelo Presidente da República Jorge Sampaio, Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. E em Janeiro de 2008 recebeu o Prémio Paridade: Mulheres e Homens na Comunicação Pessoal.

Em 2010, à sua Poesia Reunida, editada pela Dom Quixote, foi atribuído o Prémio Máxima Vida Literária.

Bibliografia

Poesia

Espelho Inicial – 1960

Cidadelas Submersas – 1961

Tatuagem, in “Poesia 61” – 1961

Verão Coincidente – 1962

Amor Habitado – 1963

Candelabro – 1964

Jardim de Inverno – 1966

Cronista não é Recado – 1967

Minha Senhora de Mim – 1971

Educação Sentimental – 1975

Mulheres de Abril – 1976

Poesia Completa – 1982

Os Anjos – 1983

Minha Mãe, Meu Amor – 1984

Rosa Sangrenta – 1987

Antologia Poética – 1994

Destino – 1997

Só de Amor – 1999

Antologia Pessoal – 2003

Feiticeiras – 2006

Inquietude – 2006

Poesia Reunida – 2009

 

Prosa

O Delator (teatro) – 1961

Ambas as Mãos Sobre o Corpo – 1970

Novas Cartas Portuguesas – 1971

Ana – 1974

Ema – 1984

Cristina – 1985

A Paixão Segundo Constança H. – 1994

Transfert – 1984

Com a Mão Firme e Doce – 1985

Lídia – 1985

Azul-Cobalto – 1999

Preguiçosa – 2004

Mónica – 2005

Leonor e Teresa – 2005

Laura e Juliana – 2006

A Princesa Espanhola – 2007

Tinta-da-China – 2007

Eclipse – 2008