Manuel Halpern revelou que ouviu muito esta canção na infância, mas na versão de Paulo de Carvalho, reconhecendo que as canções sempre influenciaram muito o que escreve. O jornalista considera que é extremamente difícil escrever algo para ser musicado e, por isso, tem grande admiração pelos letristas. E para metaforizar essa dificuldade, deliciou o público com uma história.

Francisca Camelo também transportou o público com as suas palavras, através de uma narrativa que parte de um lugar de infância e acaba noutro completamente diferente. Remete para um começo em que “aprendia a medir a tristeza das pessoas pela largueza dos seus passos e tinha muito que achar sobre quase tudo” e daí as constatações de que “o mundo não presta. A poesia não salva. Quem nos salva são as pessoas e é evidente que se morre muito pelo caminho devido à falta de sentido de comunidade”.

À semelhança de Manuel Halpern, também Manuel Jorge Marmelo cresceu a ouvir esta música celebrizada em Portugal por Paulo de Carvalho e decidiu dividir a sua intervenção em duas partes. Primeiro, partiu do verso “Vão saber o que custou a liberdade” para se debruçar sobre a ideia de (falta de) liberdade – pela guerra que se vive, pelo avanço das democracias e liberais, pelos interesses dos países ricos e pela necessidade de decidirmos sobre parte da nossa vida e, ainda, pela morte (tema do seu mais recente livro apresentado ontem).

A segunda parte da sua intervenção foi mais literária remeteu para o poder das palavras e da literatura, ao recordar uma intervenção que fez numa edição anterior do Correntes d’Escritas (há cerca de 10 anos), em que evocou a memória do professor primário, Orlando: “O que hoje sou e escrevo resulta em grande medida do que vi e vivi nos dias de infância”, acrescentando que “como qualquer menino de Huambo não quero deixar de recordar as pedrinhas do recreio da escola as quais juntei como estrelas letras para formar as minhas primeiras palavras novas”.

Para Jesús del Campo, há uma diferença entre a literatura e a música, sendo que esta última é imediata, banal e a banalidade é uma das características sociais atualmente: “no nosso tempo, assistimos a uma dialética entre banalidade e substância”. O escritor enalteceu a existência de espaços na cultura em que a palavra mantém o seu valor nobre, tal como o Correntes d’Escritas que “luta pela cultura contra o inóspito”.

Consulte o programa completo e acompanhe o 23.º Correntes d´Escritas presencialmente ou em direto nas redes sociais da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim (aqui ou aqui).