António Quino começou por se referir à muita alegria que lhe dá ver o Correntes d’Escritas ter um poder de mobilização forte e conseguir reunir “tanta massa pensante na Póvoa de Varzim”: “Estou habituado a ver lotação esgotada nos campos de futebol e agrada-me ver tanta gente aqui neste encontro dedicado à literatura”.

António Quino fez uma abordagem aos escritores da história da literatura angolana, começando pelo séc. XIX e nomes como José da Silva Maia Ferreira e Arsénio Castro, que “tiveram uma passagem muito forte pelo Rio de Janeiro e Recife, e pelas leituras aí feitas, foram influenciados pelo romantismo brasileiro, que viria a marcar a sua escrita”.

E com a chegada da imprensa a Angola, surgem também a impressão dos primeiros livros. Há a proliferação dos jornais, pelo que os prosadores angolanos aproveitam a imprensa para fazerem publicar as suas prosas.

Num segundo momento da literatura angolana, já no séc. XX, surge a geração “Vamos Descobrir Angola”, onde se incluem nomes como Agostinho Neto. O modernismo brasileiro e o neorrealismo português, “que promulgava uma consciência contra o poder dominante”, são aspetos fundamentais para estes escritores. São autores que buscam a liberdade na poesia, em particular na forma, tendo a preocupação de ir ao encontro do povo angolano.

António Quino lembra a defesa de Agostinho Neto: “os nativos são educados como se tivessem nascido na Europa (…) não conhecem Angola e olham a sua terra de fora para dentro”… Esta ideia foi o que fez esta geração fazer o volte face, sublinhou António Quino.

Chegados à atualidade, Quino refere que também se procura a rutura com o passado e que os escritores angolanos procuram um “novo sentido estético e razão africanas”. E dá como exemplo a defesa de Costa Andrade, poeta e prosador: “A construção da identidade nacional passa pela dessacralização da língua portuguesa”.