João de Melo tinha a boa recordação de já ter estado naquela escola há três anos atrás e ter chegado a escrever sobre essa experiência. Fausta Cardoso Pereira, estreante no evento, sentiu-se tão bem recebida que se prontificou a repetir. Para além destes, também Leonardo Padura esteve à conversa com os alunos desta escola.

Feitas as apresentações dos escritores, os alunos leram alguns excertos das suas obras. Em seguida, foi lançado o mote “As palavras têm sangue” para cada um comentar.

João de Melo começou por dizer que “temos uma língua que nos é comum. Mas uma coisa é ter uma língua comum outra é ter uma linguagem (uso que cada um faz de uma língua que é comum)”. Essa linguagem pode também designa-se de estilo literário, ou seja, “ponto de partida e chegada para qualquer autor ou cidadão que se preze”.

Para o escritor açoriano, “a língua é um espaço inocente e cada um faz dele o uso que quiser. A língua é um corpo relativamente passivo”.

Na sua opinião, qualquer tipo de arte (música, pintura, literatura, entre outras) “é uma forma de autodefesa contra agressões, uma forma de combate” e, neste sentido, transmitiu que “não concebo um escritor neutro” nem “acredito numa literatura que não tenha ideias”. Confessou ainda que “nunca fui capaz de viver sem ideias” pois “a literatura entra como uma componente fundamental do nosso ato de viver. Somos um inventário de emoções”.

Enquanto escritor e professor, João de Melo confessou que “sempre imaginei que era um escritor emprestado ao ensino”.

Fausta Cardoso Pereira tem duas obras publicadas e partilhou que a publicação foi um “acidente feliz” na sua vida.

E porque à escrita está sempre subjacente a leitura, a escritora contou que “a leitura entrou muito naturalmente na minha vida. Era a forma que tinha de viajar e conhecer outras realidades. É possível construir um universo mais rico”.

Apesar da escrita ser uma ferramenta de trabalho no seu desempenho profissional na área da Publicidade é também “algo muito físico porque se não escrevo, não me consigo arrumar”, revelou.

Leonardo Padura contou aos jovens um pouco da história de Cuba, nomeadamente, da passagem de colónia espanhola a país, mas também da sua grandiosidade, pois considera que a sua imagem é muitas vezes simplificada.

Neste sentido, alertou para o facto de a literatura dos escritores cubanos permitir às pessoas entrar num mundo com relações mais humanas.