A Caminho, representada pelo editor Zeferino Coelho, marcou presença com seis autores, ou seja, seis novos livros que se repartem entre poesia, romance e conto. Coube a Paula Medeiros, que está a fazer um Doutoramento sobre a obra de Manuel Rui,  apresentar Janela de Sónia, romance do escritor angolano. Tendo como fio condutor um família e uma guerra que os obriga a encontrar refúgio numa casa subterrânea, Janela de Sónia “mostra como é possível suavizar a dor a partir da palavra que se diz, que se canta” afirmou, “apela a todos os sentidos do escritor.”

Tendo como hábito nunca falar no lançamento dos seus próprios livros, Manuel Rui abriu ontem uma excepção e explicou que Janela de Sónia “é o fim de uma trilogia sobre o Huambo, que foi onde nasci.” Desvendando um pouco mais sobre a história, contou que “por mero acaso, matei a personagem principal nas 20, 30 páginas. Quis ressuscitá-la mas emocionava-me sempre.” Por isso, esta personagem, o pai de Sónia, “caminha pelo livro”, sempre presente.

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Quem também não tem por hábito falar sobre os seus livros é Luís Carlos Patraquim. Pneuma, um livro de poemas, mereceu uma apresentação breve, com o seu autor a ler dois textos. Também Ondjaki optou por ler dois poemas de Materiais para a Confecção de um Espanador de Tristezas, um que escreveu para o pai, outro que escreveu para a mãe. E antes explicou que este “é um livro que literalmente me apeteceu”, tendo um período de escrita exacto de um ano.

Do Brasil, Daniel Galera trouxe Mãos de Cavalo, o seu terceiro livro, que o autor considera “muito importante”, dado o tempo dedicado à sua escrita e à preocupação em encontrar um outro tipo de linguagem, diferente da utilizada em obras anteriores. “O livro tem coisas que comecei a imaginar tinha 8,9 anos. Por isso, o universo dele é baseado na minha infância, mas o livro não é auto-biográfico. Acima de tudo é sobre a identidade, até que ponto podemos construir a nossa identidade.” Em Mãos de Cavalo, o protagonista é retratado em três fases da sua vida: ainda criança, com 10 anos, adolescente com 15 e cirurgião plástico, já mais velho, e entediado com o casamento.

O Dia Mastroianni é outro romance, também do autor brasileiro João Paulo Cuenca. “É um livro sátiro”, resume, definindo Dia Mastroianni como um dia gasto em actividades de pândega, na companhia de belas mulheres. Mas Mastroianni é também símbolo de uma coisa que as personagens do livro, dandys, nunca viveram. “É uma narrativa pedestre numa cidade em que as coisas que acontecem não têm sentido, acontecem.”

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Amílcar Bettega apresentou Os Lados do Círculo. “Uma pessoa escreve um livro para se ver livre de algo e depois tem que o apresentar e volta tudo outra vez”, gracejou. Sobre o livro, explicou que são contos que, apesar de terem uma estrutura “que eu tentei fechar bem”, numa clara aposta formal, “são histórias independentes, mas que têm personagens comuns.” Por exemplo, a primeira história do livro relaciona-se com a última, a segunda com a penúltima, “pois a ideia é que o leitor percorra um caminho de círculo”, explicou. “Outro aspecto da unidade do livro é a cidade de Porto Alegre, que está muito presente”, identificou.

Seguiu-se Hotel Ver Mar, uma antologia poética bilingue, organizada por Michael Kegler e lançada pela editora TFM. O livro reúne poemas de autores que o tradutor alemão conheceu durante as várias edições do Correntes d’Escritas, entre 2003 e 2008, em português e traduzidos para o alemão. Amadeu Baptista, Ondjaki, Luís Carlos Patraquim, Carlos Quiroga, Aurelino Costa, Conceição Lima, José Rui Teixeira, entre muitos outros, contribuíram para este livro que tem ainda uma capa desenhada por Henrique Cayatte. Michael Kegler não deixou também de agradecer à Norprint, responsável pela impressão do livro. Hotel Ver Mar é a forma de Michael kegler agradecer à Póvoa de Varzim o Correntes d’Escritas, “uma coisa fantástica, uma coisa de família.”

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A sessão de poesia decorreu pouco depois do lançamento dos livros, entrando noite dentro com o som da viola de José Peixoto, que acompanhou a declamação de poemas por parte de Aurelino Costa, Eloy Santos, Bruno Serrano, Vergílio Alberto Vieira, Jorge Arrimar, Ivo Machado e Eduardo Bettencourt Pinto. Também Andrea Blanqué participou nesta sessão de poesia, lendo antes prosa “pois não escrevo um verso há 10 anos”, assim como Michael Kegler e Manuela Ribeiro que leram, respectivamente, um poema em alemão e português de Hotel Ver Mar.

A noite terminou com um breve concerto do chileno Américo Appiano.

No portal municipal encontre toda a informação sobre o 10º Correntes d’Escritas.