O tema deste encontro era “Que fazer com as palavras?” mas a conversa desenrolou-se por diversos assuntos consoante as questões dos jovens estudantes e as vontades das três escritoras.

Teolinda Gersão, em 18 anos de Correntes d’Escritas, participa pela terceira vez. No entanto, esta foi a primeira que se encontrou com alunos. Professora durante anos, Teolinda Gersão aconselhou os jovens que gostam de arte a terem uma profissão fora da sua paixão: “ganhar a vida e pagar as contas como artista é muito difícil. Além disso, adorei ser professora. Recebi e aprendi imenso com os meus alunos. Muitas vezes, as pessoas que nada têm a ver com literatura conseguem ver coisas em textos – até nos meus – que eu não consigo ver. Têm outra sensibilidade”.

A escritora afirmou que “as artes visuais são renegadas para segundo plano injustamente em detrimento das restantes disciplinas. Mas, ainda assim, são mais favorecidas do que a escrita”. Avó, Teolinda Gersão confessou que os seus netos não aprenderam a escrever nada: “fazem três redações por ano, uma por cada período e com número de caracteres obrigatório e limitado”. Recordando o seu percurso, a escritora contou que fez a escola primária acompanhada por onze colegas de diferentes classes. “A professora ia ensinando aos colegas do 4º ano e se me interessasse o assunto eu ia aprender. E fazíamos redações todos os dias”, sublinhou.

A autora, que disse não se sentir vocacionada para escrever para crianças e jovens, explicou aos adolescentes da Eça de Queirós que “a literatura é um veículo para questionar o mundo. E vocês estão na idade de todas as questões. Ainda não são adultos mas já perderam a infância. A fase pela qual vocês estão a passar não é fácil”.

Raquel Patriarca, por outro lado, conta com vários livros infantis na sua bibliografia e afirmou que as crianças que ainda não sabem ler são o seu público de eleição. “O segredo da escrita é encontrarmos a palavra certa”, disse. Para a escritora, os livros falam com cada um de nós de forma diferente. Enquanto Teolinda Gersão afirmou que Alice no País das Maravilhas foi a obra mais odiada da sua infância, Raquel Patriarca elege-o como o livro da sua vida.

Questionada sobre o papel social dos escritores, afirmou ser a mesma de um jogador de futebol, de um professor ou de um merceeiro: “todos, independentemente das escolhas profissionais, temos responsabilidades sociais. Não compete apenas aos escritores educar o mundo sobre as questões que consideramos essenciais para a Humanidade”. Ainda sobre esta questão, Raquel Patriarca disse que “a arte não serve a função social porque a arte não serve, a arte liberta”.

Questionada sobre a falta de tempo para escrever entre tantos afazeres diários de um jovem, a escritora referiu que também ela tem diversas tarefas além da escrita mas “a disciplina tem de existir e se temos tempo para o facebook também temos para a escrita”.

Karla Suárez visitou a Eça de Queirós pela segunda vez após um interregno de seis anos. A escritora cubana contou que a literatura é uma doença que apanhou muito pequenina: “a minha mãe era professora e eu cresci rodeada de livros”. As primeiras histórias que escreveu eram “cheias de aventuras”. Depois vieram os poemas. Na universidade começou a frequentar cursos de escrita criativa e descobriu várias pessoas ligadas às ciências (Karla estudava Engenharia Informática) apaixonadas pelos livros.

Para escrever, segundo Karla Suárez, é essencial saber ouvir e observar. “Ouço as conversas nos transportes públicos e anoto no meu caderno as características ímpares das pessoas que passam por mim. Essa observação do mundo vai dar-nos ferramentas para o recriarmos nos livros”.