Mário Zambujal, Mayra Santos-Febres, Álvaro Magalhães e Manuel Rui foram os escritores “em função”, conduzidos por Ivo Machado.

Mário Zambujal referiu-se ao “depois da escrita” como o tempo da leitura, o futuro, que pode ser mais próximo ou mais longínquo: “o depois da escrita pode ser o tempo de ler o que escrevi, se é um depois mais imediato, dá para retificar o texto, mas se é um depois daqui a 20 anos já pode ser um tempo penoso, em que vou ler o texto imutável e penso…podia ter feito melhor…porque eu mudei”.

Uma coisa é certa, Zambujal está entusiasmado com o “depois”, daqui a uma semana, que será a comemoração do seu 80º aniversário: “há dias um amigo perguntou-me porque é que estava entusiasmado por fazer 80 anos; eu respondi que estava, claro, porque nunca tinha feito tantos”.

E hoje foi o próprio dia do aniversário de Mayra Santos-Febres, nascida em 1966, em Porto Rico. A escritora quis conhecer uma nova cidade, novas pessoas e, por isso, ter com as Correntes d’Escritas uma nova experiência – este foi o presente que ofereceu a si própria.

Mayra referiu-se ao medo do depois de publicado o livro. Considera que um livro tem que ter pertinência – “que tem a ver com a conexão com o outro” – e, por isso, fica cheia de medo desse mundo que tende a tornar invisível o autor e sua obra. Mas, depois, explicou, “penso em tudo o que represento, quantas mulheres, quantas pessoas tiveram que se esforçar para eu estar aqui…então o medo vai e fico segura”. Ao perceber que é a voz de muitos, Mayra abraça a “oportunidade” desse depois, um futuro que representa a oportunidade de “um mundo de esperança, um mundo melhor”.

A autora afirma que “depois de escrever o que fica é a vontade de querer voltar a escrever!”

Álvaro Magalhães, ao contrário da estreia da escritora porto-riquenha, é um escritor com história nas Correntes d’Escritas e veio associar o “depois” à “arte maior” da Literatura infantil, a que se dedica há muitos anos, nomeadamente à forma como os textos são lidos e utilizados para fins pedagógicos. Alguns dos seus livros estão no Plano Nacional de Leitura, ou seja, são utilizados com determinados fins utilitários ou de aprendizagem. Mas Álvaro Magalhães prefere que a Literatura seja apenas Literatura, que os textos tenham como destino a leitura e o prazer que isso proporciona ao leitor.

Assim, voltando à frase proposta, conclui o escritor portuense, “escrevo e depois volto a escrever”, já que o “compromisso da minha vida é com a minha imaginação”.

Já Manuel Rui transmitiu a ideia que depois de escrever fica com a impressão do incompleto, tendo de voltar a escrever com “palavras que não existem”. Uma ideia transmitida através de um texto poético que mereceu as palmas entusiastas do público.

“Quando escrevo, o texto é uma invenção, uma necessidade de falar comigo no silêncio, na antecipação de tentar que a minha escrita vá invadir o silêncio dos outros”…

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