Coube a Elsa Osório, depois de um breve texto introdutório pelo jornalista e moderador da mesa João Gobern,  a primeira intervenção. A escritora argentina, autora de Vinte anos, Luz, encontra ecos do passado nas obras que escreve no presente. A sua vivência pessoal não poderia, nunca, ser posta de parte no momento da criação literária. E deu o exemplo de Tango, livro que lançou em Portugal durante o Correntes d’Escritas. Nele, a escritora recupera memórias. “Quero contar uma história, essa história impõe-se”, disse, afirmando pouco depois que é através de pequenas histórias que se conta a História. Mais do que eco, do que reflexão da realidade, Elsa Osorio acha que “o importante na literatura é a verosimilhança e não a verdade”. Inês Pedrosa foi  mais categórica. Para a autora “a literatura é o contrário do eco dos dias. Vivemos numa época de grande ruído (…) a literatura é uma espécie de máquina que côa o que dos dias sobra”. Para a escritora portuguesa, talvez seja a literatura apelidada de “light” aquela que realmente é o eco dos dias. E depois há, numa outra visão de eco, “o eco de nós”, ou seja, o que há de biográfico dos livros.

Onésimo Teotónio de Almeida foi o participante que se seguiu e para a sua intervenção optou por ler um “Prosema aos seus vizinhos”, um texto com um pouco de humor mas com muito de eco da realidade. Nele, Onésimo Teotónio de Almeida tenta responder àqueles que o dizem exilado nos Estado Unidos, onde é Professor Catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Brown University. A alienação relativamente ao vizinho do lado, que mal conhecemos, e o facto de a Internet nos pôr em contacto mais rapidamente com um amigo do outro lado do mundo do que nós por nós próprios com o vizinho do lado foi uma das muitas conclusões a retirar do texto, e que pôs uma plateia a rir, ou sorrir, quem sabe deles próprios.

Um eco da realidade do presente, mas que pode também vir do passado, como fez ver José Manuel Fajardo, autor espanhol, natural de Granada, mas que ainda criança se viu obrigado a viver na cinzenta Madrid, em plena ditadura franquista. Esses ecos do passado, que Fajardo reconhece como presentes nas suas obras e que são “inaudíveis para o leitor”,  são tão díspares como o barulho dos motores do elevador do prédio “horrível” onde vivia, a cor cinzenta desse mesmo elevador e de “um mundo sem perspectivas” que o levou a fazer uma pergunta quase que impossível de conceber numa criança: “A vida é isto?”. E foi o contacto com o mundo dos livros, através da profissão do pai que os vendia porta a porta, que Fajardo foi lendo, muito, e foi numa dessas leituras que encontrou a frase “ a existência está noutro lado”.  A sua educação numa escola católica, onde ainda se separavam os meninos das meninas, levou a que o eco da adolescência de Fajardo consistisse num “tropeço”. Isto porque via as mulheres como seres extraterrestres e, como tal, a sua vida amorosa nunca corria bem. O eco da militância, do sonho colectivo está também presente. Para o autor todos eles “formam parte de um material com que um escritor trabalha e uma pessoa se constrói”. E finalizou assinalando que há “um eco com que poucas vezes se conta: o silêncio”.

Hélder Macedo deu a definição de eco: “um som reflexo de outro som, que já aconteceu”. Na sua opinião, “a literatura tem um som próprio, que pode influenciar as percepção daquilo a que chamamos real”. Para o também Professor Catedrático, a narração do que aconteceu tem um “som próprio”, não sendo, por isso, um eco. E assim terminou, a discutir o presente, a última mesa de debate.