Luís Adriano Carlos, moderador do debate, começou logo por afirmar que “este é um tema vastíssimo, que pode ser perspectivado de 1001 maneiras”. E assim foi.

Aurelino Costa pronunciou-se sobre o entendimento.”Nesta era da comunicação pode não se dizer nada. (…) As palavras podem tornar-se um utensílio de entretenimento”, referindo ainda que “houve um tempo em que os humanos se falavam em vez de comunicar”.

Para Eucanãa Ferraz, a ideia de limite na poesia “pode ser escandalosa” mas “o poema pode ser pensado como o exercício de tornar elástico esse limite”. Para o ensaísta e professor de Literatura Brasileira, “o poema é mais belo quando não perde de vista a sua humanidade”, terminando dizendo que “o poema talvez seja mesmo o limite do humano”.

A linguagem e a temática podem ser duas outras perspectivas de limite, como fez ver Fernando Pinto de Amaral. O poeta, e também ensaísta e tradutor, lembrou que certos limites foram sendo quebrados, como é o caso dos limites temáticos. De facto, a partir de certa altura, a poesia começou a falar de realidades mais prosaicas, algo raro até ao séc. XIX, ou apenas destinado a determinadas classes.  E no que respeita a limites de linguagem, concretamente no que respeita à fronteira entre linguagem poética e «outra» linguagem “não há uma separação entre a linguagem conotativa e denotativa (…) Nesses sentidos, os limites não existem”, disse Pinto do Amaral, dirigindo-se especialmente aos alunos presentes no Auditório Municipal.

Pegando novamente no significado das palavras, João Luís Barreto Guimarães falou na hipótese de “se aventar se existe ou não um limite de utilização a partir do qual as palavras perdem força ou o limite a partir do qual as palavras não conseguem nada mais dizer”. Sobre a palavra, afirmou “Uma denotação e suas várias conotações é uma sorte, porque, caso contrário, nem valeria a pena escrever. O primeiro escritor a usar a palavra teria dito tudo”. Por isso, na opinião de Barreto Guimarães, as palavras não têm limite, pelo menos no que respeita ao seu significado. Continuou a sua intervenção, referindo-se ao poeta como “um reparador de palavras”, que por vezes lhes lava a cara. Uma ideia também verbalizada por Luís Rafael Hernández, narrador, poeta e ensaísta cubano. “As palavras são mal usadas, perdem força, perdem realidade. Há que as limpar e devolver-lhes o seu significado primário”, afirmação que Hernández acredita ser o lema do escritor para o leitor.

Correntes d’Escritas continua hoje, com mais três mesas de debate, lançamento de livros e sessões de poesia.